A utilização de aplicações de encontros é cada vez menos vista de uma forma negativa, com a ascenção de várias plataformas deste género nos últimos anos.
Mas, ainda assim, o processo de “aceitação” deste tipo de aplicações tem sido feito aos poucos. Em 2017, uma investigação conduzida por dois investigadores que pretendia perceber como os portugueses se comportavam no Tinder, a maior aplicação de dating do momento, deu conta de que, em Portugal, os utilizadores são conservadores e, pode dizer-se, menos ousados.
Rita Sepúlveda e Jorge Vieira analisaram mais de 700 fotografias de 100 homens e 100 mulheres na aplicação e perceberam que os portugueses são muito pouco arrojadas, com imagens quase sem corpos à vista. Além disso, os textos que acompanham os perfis são simples, mas também há muitos utilizadores que não se identificam nem a partir da imagem nem na mensagem de apresentação.
Já nos EUA, uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center em 2016 tinha concluído que a maioria dos americanos considerava as aplicações de encontros uma boa maneira de conhecer alguém, apesar de, na prática, apenas 15% dos adultos já tinham utilizado uma aplicação deste género.
Além disso, apenas 5% das pessoas casadas ou comprometidas afirmaram terem começado as suas relações numa aplicação destas, o que pode significar que muitos dos utilizadores do Tinder – são mais de 57 milhões em todo o mundo – não sabem utilizá-lo corretamente. E, claro, o algoritmo influencia tudo.
O algoritmo do Tinder
Esta aplicação utiliza o rating Elo, um método estatístico utilizado para calcular os níveis de habilidade dos jogadores de xadrez. Isto significa que os utilizadores “pontuam” mais quanto mais gostarem de fotografias de outras pessoas inscritas na aplicação.
O Tinder reúne, por isso, pessoas com pontuações semelhantes, assumindo que utilizadores sobre quem a maioria tenha opiniões parecidas estão no mesmo nível de desejabilidade. No xadrez, por exemplo, um novato tem uma pontuação de cerca de 800, mas a de um especialista é de 2400.
É óbvio que grande parte desta classificação secreta criada pelo Tinder que indica quão desejável cada utilizador é obtém-se, principalmente, a partir da sua aparência. Por isso, o Tinder é constantemente atualizado de forma a permitir que os utilizadores coloquem mais fotos nos perfis.
Pelo contrário, as pessoas não são incentivadas a adicionar informações pessoais.
À medida que os utilizadores se aproximam do final do conjunto de pessoas que a aplicação seleciona, o algoritmo começa a reciclar utilizadores de quem não se gostou pela primeira vez.
O Tinder quer que os utilizadores façam “matches”, ou seja, combinações, mas pretende ainda mais ser realmente útil, isto é, que as pessoas conversem e combinem encontros. Por isso, identifica que contas estão a ser utilizadas para criar ligações reais e quais são as que servem apenas para colocar e receber gostos. E vai agir de acordo com isso.
Conselhos de quem sabe
O Tinder é superficial, sabe-se. Mas a verdade é que facilita a vida aos utilizadores, já que o processo entre conversar com alguém e marcar um encontro se torna muito mais rápido do que seria, normalmente.
A Vox conta que, num debate, Helen Fisher, investigadora e conselheira científica do Match.com, que pertence à mesma empresa que detém o Tinder, referiu que as aplicações de encontros não conseguem alterar a química cerebral básica no que diz respeito ao romance e que, por isso, não faz sentido discutir se o algoritmo consegue criar melhores combinações e até relacionamentos.
A investigadora diz que o maior problema destas aplicações tem a ver com a “sobrecarga cognitiva”, já que o cérebro não está preparado para escolher entre centenas ou milhares de alternativas. Por isso, aconselhou os utilizadores a pararem de ver as opções assim que tenham nove combinações, porque é o número máximo de alternativas com as quais o cérebro é capaz de lidar.
Caso os utilizadores não encontrem nenhuma opção agradável, podem continuar a ver a lista, diz Helen Fisher, desde que parem sempre à nona combinação.
O importante é não deslizar demasiadas vezes para a direita (esta ação serve para dizer que se gosta de um perfil, enquanto o deslizamento para a esquerda significa que não se gostou do utilizador mostrado).
Além disso, a classificação de desejabilidade no Tinder não deve ser uma preocupação, mas sim ter um perfil completo e com muitas fotos claras. Os superlikes (com que se destaca alguém) também não são um problema, já que funcionam, principalmente, com uma forma de obtenção de lucro para o Tinder.