O bebé tem quatro meses, está apenas de fralda, enquanto é virado de pernas para o ar, ao som de uma música tribal, nas ruas de Kuala Lumpur, na Malásia – e quem passa não consegue evitar o queixo caído. Segundos depois, volta a ser atirado ao ar, para logo de seguida ser agarrado pelos tornozelos, em equilíbrio.
Os seus pais, de 28 e 27 anos, são dois jovens russos que andam a dar a volta ao mundo, enquanto artistas de rua. E este bizarro show é uma das formas de financiamento da sua viagem de um ano. Os três tinham entrado na Malásia, vindos da Tailândia, e não contavam que fossem detidos por esta prática, mas foi o que aconteceu durante umas horas. Depois, saíram sob fiança.
O vídeo que mostra esta performance dura 90 segundos e já se tornou viral na Internet, sempre acompanhado de comentários duros e quase todos desaprovadores. Zayl Chia Abdulla foi quem o publicou pela primeira vez, a seguir a filmá-los em Bukit Bintang, uma zona turística da cidade. E escreveu: “Porque é que as autoridades permitem que atos como estes sejam mostrados em público? Estes artistas de rua precisam de ser presos! Por favor, façam alguma coisa.” E ainda acrescentou que considerava um ato irresponsável, que pode causar danos “àquele pobre bebé.”
Considerações morais à parte – exibem o filho para pedir dinheiro a quem passa e assim continuarem a viajar – será que todo aquele chocalhar faz mal à criança? A “cossack gymnastics” (que podemos traduzir por ginástica dinâmica) não é assim tão estranha na Rússia. Em determinados meios, mais alternativos, é até recomendada para que os bebés fiquem mais fortes.
Nos sites em que essa prática é defendida, afirma-se que ela desenvolve coordenação de movimentos, reforça o esqueleto, estimula o sistema metabólico e o trabalho dos órgãos internos. Recomenda-se que se comece com os exercícios uma ou duas semanas depois do parto, para ajudar o bebé a ultrapassar os traumas do nascimento até à data em que comece a gatinhar – tendo sempre uma superfície mole por baixo.
O pediatra Pedro Garcia, do Hospital Dona Estefânia, assegura que esse tipo de argumentos não tem qualquer fundamento médico. E alerta para os perigos eminentes de quem chocalha bebés: “As principais complicações acontecem a nível cerebral, podendo dar origem a hemorragias intracranianas, que são detetadas através de hemorragias na retina.” Na verdade, qualquer órgão interno está em risco, pois tratam-se de lesões de aceleração/desaceleração, que provocam danos nos vasos. Dependendo da violência do movimento e da fragilidade vascular, a criança pode ficar com sequelas neurológicas, cegueira, hemorragias no fígado ou intra-abdominais.
Mesmo assim, independentemente dos riscos graves, este tipo de exercícios é praticado há mais de duas décadas na Rússia. E não dá mostras de estar perto de acabar, como mostram os numerosos vídeos no YouTube com exemplos desta ginástica.