Ainda não foi anunciada a data, mas já é público que Lord Ivar Mountbatten, de 55 anos, terceiro primo de Isabel II e descendente da rainha Vitória, vai casar ainda este verão com o seu namorado James Coyle, de 56, naquele que será o primeiro casamento gay na família real britânica.
Lord Ivar conheceu James em março de 2015, numa estância de ski em Verbier, na Suíça. Pouco depois, separou-se de Penélope “Penny” Ana Vere Thompson Mountbatten, de quem tem três filhas, e assumiu publicamente a sua bissexualidade.
Por sugestão das suas filhas, será Penny a levá-lo ao altar, na capela privada da família, em Devon. Não se espera que a rainha Isabel II esteja entre os convidados, mas Ivar fez saber, numa entrevista ao Daily Mail, que os noivos têm todo o apoio da família real.
Não é a primeira vez que membros da família real assumem relações amorosas com pessoas do mesmo sexo. Os historiadores recuam ao século XIV para encontrarem exemplos de paixões assolapadas entre reis e alguns dos seus homens “favoritos”.
O reinado de Eduardo II, entre 1307 e 1327, não deixou boas recordações. Ao pé da sua invasão falhada da Escócia e da fome que se lhe seguiu, as relações amorosas que o rei manteve com homens não ficariam, por isso, para a História não fosse o facto de dois deles – Piers Gaveston e Hugh Despenser – terem influenciado o curso dos acontecimentos.
Obcecado por Gaveston, o jovem Eduardo, que tinha apenas 16 anos quando se conheceram, viria a cumulá-lo de terras, títulos e dinheiro, causando a inveja e a ira na corte. Enviado para o exílio pelo rei Eduardo I, que via com maus olhos a amizade com o seu filho, Gaveston seria mandado regressar à corte mal Eduardo II ascendeu ao trono. Elevado a conde da Cornualha, casado com uma sobrinha do rei, acabaria estrategicamente assassinado por um primo do rei, cansado da sua influência política.
Anos mais tarde, o rei apaixonou-se por Hugh Despenser, filho de um antigo conselheiro do pai. A relação de ambos eram tão pública e notória que um cronista da Abadia de Newenham, em Devon, chamava-lhes “o rei e o seu marido”. Eduardo II estaria “enfeitiçado” por Despenser ao ponto de seguir todos os seus conselhos de governação.
No início do século XVII, também deu nas vistas a paixão do rei Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra por Esmé Stewart, duque de Lennox.
Casado e pai de onze filhos, Stewart tinha 37 anos quando conheceu o jovem rei, então com 13. A relação entre os dois preocupou desde o início os conselheiros reais, que a viam como uma ameaça ao bom funcionamento do reino, sobretudo porque Esmée era católico e encontrava-se ligado aos Guises, uma importante família ducal francesa.
“O rei é completamente persuadido e liderado por ele, não aguenta a sua ausência, e mostra-se tão apaixonado à vista de todos que muitas vezes o agarra pelo pescoço e beija-o”, relatou um padre de Edimburgo a Sir Henry Widdrington, membro do Parlamento (citado do livro The Expansion of Elizabethan England, de A. Rowse, M. Portillo).
Jaime seria forçado a terminar a relação, para grande desgosto de Stewart. “Desejo morrer, temendo que já não me ame”, escreveu-lhe o duque, numa das suas cartas (analisadas por David M. Bergeron, professor de Literatura inglesa, no seu livro King James and Letters of Homoerotic Desire). Mas o rei rapidamente arranjou um substituto. Rezam as crónicas da época que se apaixonou pelo menos mais duas vezes, primeiro por Robert Carr, conde de Somerset, e, já quarentão, por George Villiers.
Filho de um nobre de Leicestershire, prontamente elevado pelo rei a duque de Buckingham, Villiers seria o seu homem “favorito” mais famoso. Numa carta datada de 1623, citada por Bergeron, Jaime alude sem rodeios a “casamento” e chama-lhe “minha doce criança e mulher”.
A atração por pessoas do mesmo sexo não se cingia aos membros masculinos da família real britânica, naturalmente. No início do século XVIII, eram conhecidas as amizades íntimas da rainha Ana, sendo a mais notória aquela que manteve anos a fio com Sarah Churchill, duquesa de Marlborough. Mas os historiadores dividem-se quanto à natureza da correspondência mantida entre ambas, sugerindo que declinar o verbo “amar” é diferente entre homens e mulheres.