Morrer sem nunca ter recebido reforma. O tema já é suficientemente importante, mas o timing escolhido pelo primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, para anunciar o aumento da idade da reforma pôs a população em polvorosa – em pleno jogo inaugural do Mundial de Futebol, enquanto a anfitriã Rússia ganhava por cinco golos à Arábia Saudita.
A intenção de passar a decisão de forma despercebida não caiu bem a ninguém, aliado ao facto de o aumento da idade da reforma estar demasiado perto da esperança média de vida, no caso dos homens.
O Governo vai aumentar a aposentação dos homens de 60 para os 65 anos até 2028, enquanto no caso das mulheres o aumento é de 55 para 63 anos até 2034.
A questão é que esta medida coloca os homens com direito à reforma a apenas um ano da esperança média de vida que é de 66 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde.
O Banco Mundial também estima em 66 anos a esperança de vida dos russos e o CIA World FactBook em 65,3 anos. No caso das mulheres, os 77 anos são comuns às três estatísticas.
A Confederação Russa do Trabalho já reagiu e diz que “não apoia a decisão” e que vai “lançar uma campanha contra a sua implementação”. Acrescentou, ainda, em comunicado, que “este aumento da idade da reforma não se baseia nas estatísticas oficiais e não está de acordo com os objetivos estabelecidos entre a Confederação e o Governo”, já que em “mais de 60 regiões russas a esperança de vida dos homens está abaixo dos 65 anos”. De acordo com as suas contas, 40% dos homens e 20% das mulheres não viverão o suficiente para terem direito a reforma.
No entanto, o Executivo de Medvedev espera aumentar a esperança de vida nacional para os 76 anos até 2025 (atualmente é de 71 anos).
O presidente Vladimir Putin demarcou-se do Governo. Através do assessor de imprensa, Putin fez saber que a idade da reforma “não vai aumentar” enquanto ele estiver no cargo e que não tomou parte nos planos do Governo.
“É um período bastante longo e razoável em que são possíveis mudanças em qualquer país”, referiu Medvedev, de acordo com o Financial Times. O primeiro-ministro também disse que estas medidas são “inevitáveis e há muito esperadas” e foram desenhadas para dar o pontapé de saída no aumento do desenvolvimento económico.