Foi um momento de arrepiar, aquele em que se comprovou que chegava ao fim o governo de Mariano Rajoy. Houve abraços e lágrimas de alegria de um lado, cabeças caídas em desalento, do outro.
O parlamento espanhol aprovou esta sexta-feira, 1 de junho, a moção de censura apresentada pelo PSOE, com maioria absoluta (180 dos 350 deputados, somando os votos do PSOE, Unidos Podemos, ERC, PNV, PDeCat, Compromís, Bildu e Nueva Canarias). Cai assim o governo do Partido Popular, e simultaneamente, Pedro Sánchez, do PSOE, assume a Presidência do Governo.
Os votos dos nacionalistas bascos e dos independentistas catalães foram determinantes para este volteface na política espanhola, e que há apenas duas semanas ninguém poderia antecipar. Mariano Rajoy, visivelmente emocionado, disse aceitar democraticamente o resultado da votação: “Foi uma honra servir Espanha, boa sorte a todos.”
O socialista Pedro Sánchez planeia terminar a legislatura em curso (até 2019) e, só depois, ir a eleições, contando com vários pequenos partidos no seu Executivo e o apoio “à portuguesa” do Podemos – ou seja, sem integrar uma coligação de Governo, dar-lhe-á apoio parlamentar.
Uma jogada de alto risco
No complexo xadrez político espanhol, o líder do PSOE esperou um ano pelo momento de fazer “xeque” a Mariano Rajoy, derrubando também pelo caminho o seu maior rival na oposição: Albert Rivera, do Ciudadanos, que ultrapassara há muito o PSOE nas intenções de voto.
O anúncio de que Pedro Sánchez iria apresentar uma moção de censura ao Governo, na sequência das sentenças por corrupção confirmadas a elementos do PP, surpreendeu todos os líderes políticos, mas apanhou ainda mais desprevenido Mariano Rajoy, que já olhava para o líder socialista como um “cadáver político”, relegado que estava para um quarto lugar nas preferências dos espanhóis, nas sondagens do mês passado.
Segundo o jornal La Vanguardia, os mais próximos de Mariano Rajoy ficaram “em pânico” com a notícia, na sexta-feira, 25 de maio. Ao contrário da moção de censura do Podemos, votada no ano passado, a iniciativa do PSOE tinha todas as condições para derrubar o Executivo do Partido Popular.
Quem é Pedro Sánchez
Nasceu em Madrid num ano bissexto, a 29 de fevereiro de 1972, e a invulgaridade tem marcado o seu percurso. Militante socialista desde 1993, foi chefe de gabinete do Alto Representante das Nações Unidas na Bósnia, durante a guerra do Kosovo. Trilingue, doutorou-se em Economia e chegou a secretário-geral em 2014, nas primeiras eleições diretas de um partido em Espanha. Era então um deputado desconhecido, mas conquistou as bases com as suas propostas mais à esquerda, considerando que a social-democracia cometeu um erro histórico ao usar a economia de mercado como alavanca para o desenvolvimento.
Depois de, em 2016, ter falhado a formação de um governo alternativo, demitiu-se. Voltou a ser eleito líder do PSOE em maio de 2017 e, agora, chega à Moncloa de forma inédita na política espanhola – é o primeiro político a conseguir aprovar uma moção de censura e também o primeiro que assume a liderança do governo sem ser deputado.