Quem dá mais? A licitação da coleção de arte Peggy e David Rockefeller promete ser emocionante – e um dos leilões mais rentáveis de sempre. À partida, a leiloeira Christie’s espera conseguir pelo menos 500 milhões de dólares, mas vários peritos internacionais acreditam que esse valor poderá ser multiplicado por quatro ou cinco vezes. Há obras de Picasso, Monet, Manet, Delacroix, Cézanne, Gauguin, Rivera, Gris, Hopper… a lista com os nomes maiores do mundo da arte parece não ter fim, num catálogo com 4 046 peças, divididos em 1600 lotes.
O leilão decorrerá em maio, em Nova Iorque, mas a Christie’s decidiu fazer uma tournée internacional com algumas das “estrelas” da coleção. De 16 a 21 de março podem ser vistas em Paris; depois serão expostas em Pequim, Xangai e Los Angeles.
A maioria das peças irá, muito provavelmente, para coleções particulares. Vários museus tentarão também a sua sorte, mas dificilmente conseguirão suplantar os caprichos de alguns milionários, dispostos a quebrar todos os valores de avaliação. Até ao ano passado, as três obras mais caras de sempre tinham sido vendidas por 141 milhões de dólares (Qi Baishi, China), 110,5 milhões de dólares (J.M. Basquiat, EUA) e 81,3 milhões de dólares (V. Van Gogh, Holanda). O Picasso mais caro foi leiloado por 45 milhões. Mas a venda, em 2017, de Salvador Mundi, de Leonardo da Vinci, por 450 milhões de dólares (também pela Christie’s), provou que não há recordes inquebráveis.
Estas “guerras” de licitação não entusiasmavam David Rockefeller, que pediu para só venderem a sua amada coleção após a sua morte. O milionário morreu a 20 de março do ano passado, com 101 anos. Com a sua mulher, Peggy, construiu um extraordinário acervo, já doado em parte ao MoMa – Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, erguido no edifício que os Rockefeller também doaram e que servia, no século passado, de residência à matriarca de uma das famílias mais ricas da América.
Os Rockefeller foram generosos filantropos e apoiaram muitos artistas e instituições durante a sua vida. “Partilhávamos o sentimento de que a beleza e a excelência são fonte de força e de felicidade”, escreveu o milionário em 1992, descrevendo o que movia o casal na compra de tantas obras de arte. “Mas sempre entendemos que não possuíamos todas estas coisas. Éramos apenas os seus guardiões.”