Na semana em que Londres se prepara para iniciar o divórcio com a União Europeia, a Escócia assinala com qual dos ‘cônjuges’ quer ficar. Nicola Sturgeon vai pedir, nos próximos dias, autorização ao parlamento escocês para agendar um segundo referendo sobre a independência da Escócia do Reino Unido no final de 2018 ou início de 2019.
A líder escocesa, em discurso esta segunda-feira na residência Bute House, em Edimburgo, argumenta que os escoceses devem poder escolher entre um ‘hard Brexit’ (saída dura da UE) ou tornar-se um país independente “capaz de assegurar uma parceria entre iguais com o resto do Reino Unido ou na relação com a Europa”. Sturgeon afirma ainda que o governo britânico “não se mexeu um centímetro” para chegar a um compromisso com Edimburgo, apesar dos escoceses terem votado em peso contra o Brexit. Nesse referendo, que teve lugar a 23 de junho de 2016, 62% dos escoceses votaram contra a saída britânica da UE – a Escócia, a par da Irlanda do Norte, estiveram em contraciclo com País de Gales e Inglaterra, os quatro países que completam o Reino Unido.
“Não é só a nossa relação com a Europa que está em jogo, mas também o género de país que seremos”, disse Sturgeon, que acredita agora num resultado diferente do primeiro referendo à independência da Escócia em setembro de 2014. O “não” venceu então por 55,3%, com uma participação recorde de 84,6% dos eleitores escoceses. “Há só dois anos os cidadãos da Escócia votaram, de forma decisiva, para ficar no Reino Unido num referendo que o governo escocês definiu ser ‘único numa geração’”, reagiu o porta-voz de Downing Street, antes de acrescentar que “outro referendo seria uma fonte de divisão e causaria uma grande incerteza económica no pior momento possível”.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, deve acionar no final do mês o artigo 50º do Tratado de Lisboa e iniciar assim as negociações do divórcio. A Câmara dos Lordes aprovou emendas ao projecto-lei do Brexit, uma delas a tentar obrigar o governo de Londres a procurar um melhor acordo com a UE em caso de ambas as câmaras do parlamento o chumbarem. May prefere começar a negociar com Bruxelas e deixar em aberto o cenário de um não-acordo, ou ‘hard Brexit’, exactamente o cenário que Edimburgo quer evitar.
Ao apontar a data do novo referendo para a primavera de 2019, no máximo, Sturgeon quer chamar os escoceses antes do processo do Brexit estar completo. A secessão do Reino Unido volta a ser um cenário real, não só na Escócia como na Irlanda do Norte – um território cada vez mais nervoso com a perspectiva de passar a existir uma fronteira física com a República da Irlanda após o divórcio britânico com a Europa. Desde o referendo do ano passado que Edimburgo tem feito uma aproximação a Bruxelas, que será sempre difícil. O maior entrave a uma Escócia dentro do clube europeu vem de Madrid, que receia que se crie um precedente para uma futura Catalunha emancipada.