Nicholas Bequelin, diretor regional da Amnistia Internacional (AI) para o Leste da Ásia, foi direto ao assunto. Escreveu na sua conta do Twitter: “Isto é extraordinariamente preocupante, dada a longa prática da China de tentar usar a Interpol para prender dissidentes que se encontram no estrangeito.”
O dirigente da AI comentava a eleição, esta quinta-feira, 10, de um alto responsável da segurança interna da China, Meng Hongwei, para presidente da Interpol, a polícia internacional que emite mandados de detenção e extradição de suspeitos de crimes entre os seus 190 países-membros (Portugal incluído). Sem concorrência, Hongwei foi eleito numa assembleia-geral do organismo que se realizou em Bali, Indonésia, mas o resultado da votação ficou no segredo dos deuses.
A chegada de Meng Hongwei ao topo da Interpol, para um mandato de quatro anos, coincide com um novo impulso que o Presidente chinês, Xi Jinping, pretende dar à campanha interna anti-corrupção, visando agora “suspeitos” que saíram do país para o estrangeiro.
Embora as autoridades de Pequim neguem que esses seus alvos sejam politicamente selecionados, a verdade é que vários dos “suspeitos” estão associados ao antecessor de Xi Jinping na Presidência da China, o crítico Hu Jintao, e a outros adversários do atual líder chinês.
“Apesar de considerarmos importante a luta contra a corrupção, o certo é que a campanha tem sido politizada e contaminada pela falta de independência do poder judicial”, diz Maya Wang, representante em Hong Kong da Human Rights Watch. Esta ativista afirma ainda que a eleição de Meng Hongwei para presidente da Interpol traz uma “perspetiva alarmante”.
O estatuto da Interpol impede-a de agir sob critérios políticos, militares, religiosos ou de cariz racial. Em resposta às críticas e preocupações manifestadas após a eleição de Hongwei, a polícia internacional fez saber que possui um instrumento interno de veto para atuações que não se enquadrem nos seus propósitos. Ver-se-á.