À medida que, em várias frentes, se luta contra esta realidade ela não deixa de ser bem real e de procurar crescer e reforçar-se a cada dia que passa.
O que agora foi anunciado no Facebook de um grupo de ingleses pró-Daesh – os Rayat al-Tawheed que se autointitulam “Bandeira de Deus” – foi a relação entre o grupo e vários europeus com antecedentes criminais.
No post pode ver-se um homem de costas com uma Kalashnikov a olhar para a luz, em direção à qual caminha e seguido da frase “Às vezes as pessoas com os piores passados criam os melhores futuros”, em árabe.
Ou seja, os grandes targets do recrutamento do Estado Islâmico são sobretudo homens que cometeram crimes, que pertenceram a gangs ou que tiveram problemas relacionados com drogas e pessoas de origens pobres com pouca escolaridade. Esta relação entre crime e terrorismo está a dificultar bastante identificação da radicalização por parte dos serviços de segurança da Europa.
Aquilo que agora se sabe é que mais de metade dos europeus que aderiram ao Estado Islâmico vêm de realidades duras atrás de um propósito, das promessas de redenção e de um futuro mais brilhante do que aquele que teriam no país natal.
Esta é uma tendência que contraria totalmente o típico recrutamento islâmico que habitualmente requeria pureza na vida e conhecimentos gerais vastos.
O Centro Internacional para o Estudo da Radicalização (ICSR) criado pelo Kings College de Londres veio ainda reportar que a maioria das redes terroristas conseguem, através da sua propaganda, passar a ideia perigosa (a pessoas que tratavam a violência por tu) de que a violência é uma via possível enquanto modo de vida.
Ou seja, ao contrário daquilo que acontecia com a al-Qaeda que “praticamente publicava um livro para justificar os seus ataques” como diz o professor Peter Neumann, diretor do ICSR e que tinha requisitos de entrada, nomeadamente religiosos, a Isis é francamente mais permissiva. Justifica os seus ataques com vídeos e alguns parágrafos apenas e procura chegar a uma audiência maior através dos seus media oficiais e redes sociais.
O que acontece é que as autoridades têm os olhos postos em jovens que alteram os seus modos de vida: deixam crescer a barba, deixam de beber álcool, começam a frequentar mesquitas, mudam as roupas. Mas cada vez menos eles são assim. O ICSR chegou mesmo a concluir que continuam a fumar, a beber e até a consumir drogas antes de partir para a Síria.
Peter Neumann refere ainda que, 2 em cada 3 dos jihadistas analisados neste estudo têm não apenas um historial criminal mas também um historial de violência. “Dá aos criminosos uma justificação para fazerem o que sempre fizeram – só que agora vão para o Céu”, diz Neumann.
Assim, focando-se menos nos conhecimentos religiosos dos recrutados, que são completamente básicos, optam por lhes incutir apenas um sentido de obediência absoluta. A lógica: “Podes pertencer à missão, não queremos saber se és um verdadeiro islamita – nós somos”.
A morte de um nome importante do Daesh
O Estado islâmico veio agora confirmar a morte do seu responsável pela propaganda, no mês passado, vítima de um ataque aéreo de precisão. Chamava-se Wail Adil Hasán Salman al Fayad mas era conhecido como Doctor Wail e morreu nos arredores da cidade Síria de Raqqa. No seu comunicado, a Isis lamentou a morte de Al Fayad, prestando-lhe homenagem, mas sem especificar o que esteve na origem do ataque.
Como supervisor da propaganda terrorista, por ele passava tudo o que era tornado público pelo grupo, nomeadamente os vídeos em que civis foram torturados e executados.
Os Estados Unidos já vieram reivindicar o ataque, através do porta-voz do Pentágono – Peter Cook – que o descreveu como um “ataque aéreo de precisão” levado a cabo pelas forças da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos contra “um dos líderes mais importantes do Estado islâmico”.
Recorde-se ainda que al Fayad era membro do Concelho da Shura e o braço direito Abú Muamad al Adnani, o antigo porta-voz do Isis que morreu no passado 30 de Agosto, vítima também de um ataque aéreo