As declarações públicas do imperador que mais tempo tem de reinado surpreenderam esta semana o Japão. Está doente e quer deixar de exercer funções, mesmo que isso vá contra a constituição. Satisfazer o seu desejo pode não ser assim tão fácil
O cancro
Akihito chegou ao trono em 1989, sucedendo, como não podia deixar de ser, a seu pai, o imperador Hirohito. Este reinou desde dezembro de 1926 até à sua morte, como manda a tradição e a constituição japonesa. Foi o mais longo reinado no Japão (63 anos), que atravessou a II Guerra Mundial e foi obrigado a fazer a transição para uma legislação mais democrática e consonante com os novos tempos: a monarquia constitucional. Dois anos antes da sua morte, Hirohito foi submetido a uma cirurgia no pâncreas e descobre que tem cancro. O último ano do seu reinado, viveu-o em sofrimento e agonia. Até ao dia da sua morte – 7 de janeiro de 1989 – em que o poder passou naturalmente para o filho mais velho, Akihito.
Um pedido
Aos 82 anos, 27 dos quais como imperador, Akihito pode estar a repetir o fim da história de vida de seu pai, Hirohito. A doença atravessou-se- -lhe no caminho: problemas cardíacos e um cancro na próstata, a cujos tratamentos já se submeteu.Os mais atentos já teriam certamente percebido o cansaço do seu imperador e como ele vinha evitando viagens oficiais e aparecimentos em público. Nalguns casos, deixou-se mesmo substituir pelo filho príncipe herdeiro, Naruhito. No início desta semana, a estação pública de televisão da ilha transmitiu uma declaração pré-gravada de Akihito: “Receio que se tornará cada vez mais difícil para mim cumprir os meus deveres como imperador simbólico”.
A surpresa
A declaração pública do Imperador surpreendeu o seu povo. Desde 2011, altura do desastre da central nuclear de Fukushima, que ele não se dirigia publicamente aos japoneses. Para não contrariar a constituição, Akihito nunca falou em resignação ou demissão do cargo.
A polémica
Akihito deixou subentendido que quer afastar-se e reformar-se, vincando não estar capaz de assumir as suas funções com dignidade. Os bons entendedores leram a sua mensagem como um desejo de abdicar do trono, algo inédito na história do Japão. A polémica instalou-se. Para que seja feita a sua vontade, terá de se avançar para uma reforma da constituição, para incluir a hipótese da sucessão antes da sua morte.
O sucessor
Naruhito, 56 anos, é o príncipe na linha direta da sucessão. Estudou em Inglaterra, e pretende adaptar as obrigações imperiais às mudanças dos tempos, promovendo uma monarquia mais aberta e simples. É pai de uma filha, de 15 anos, e a lei só permite homens na linha de sucessão. E a pressão sobre a sua mulher, Masako, para ter um filho – nunca conseguido – foi tanta, que se tornaram conhecidas as suas violentas depressões. A alternativa poderá ser o seu irmão, Akishino, que tem um filho com nove anos.