Quando atacou, empunhando uma faca de mato, Thomas Mair gritava “Britain First!” (o Reino Unido Primeiro). Segundo testemunhas oculares, terá dado uma boa meia dúzia de facadas na deputada trabalhista Jo Cox, antes de sacar da pistola, que poderia ser “antiga ou artesanal”, e disparar duas balas contra a vítima que já jazia no chão.
Possivelmente, os gritos foram uma referência ao partido de extrema-direita Britain First. Trata-se de uma organização de cariz nacionalista e racista que dispõe de milícias (“tropas de choque”) como a “Britain First Defence Force” e as “Patrulhas Cristãs”. Liderado por Paul Golding, antigo membro do British Nacional Party (BPN, uma organização extremista que chegou a dizer-se disposta a defender os direitos dos brancos “com botas e punhos bem direcionados”). O Britain First demarcou-se, entretanto, do assassinato dizendo não estar enolvido.
Nas horas que se seguiram ao ataque e à detenção de Thomas Mair, um homem de 52 anos sem ocupação fixa e que vivia de fazer biscates, a polícia procedeu a buscas em casa sua casa, procurando provas materiais das suas ligações à extrema-direita, uma vez que ele havia sido referenciado, como “apoiante” numa newsletter Neonazi da África do Sul.
Entretanto, o Southern Poverty Law Center (SPLC), organização não governamental norte-americana de defesa dos direitos cívicos, anunciou ter obtido registos que confirmam as ligações de Mair à National Alliance (Aliança Nacional, NA). A NA foi, durante décadas, a principal organização neonazi nos Estados Unidos.
O SPLC guarda na sua base de dados uma imensidão de informação sobre o extremismo de direita nos Estados Unidos, que lhe chegou através de uma fuga de informação protagonizada por um dissidente da NA. E mal se soube do atentado contra a vida de Jo Cox, os responsáveis do centro fizeram uma pesquisa. Encontraram faturas com o nome de Mair e uma morada que corresponde à área onde ele viveu.
A pista sul-africana
O atacante terá contribuído, ao longo de vários anos, com pelo menos 620 dólares para a NA e comprado, à National Vanguard Books (editora da organização) vários livros e outras publicações, incluindo o Manual de Munições Improvisadas, um livro técnico do exército norte-americano onde se explica como fazer bombas artesanais e em cuja página 123 há instruções para o fabrico de uma pistola para projetéis de calibre 0.38, com materiais que podem ser adquiridos em qualquer loja de ferragens.
As faturas agora divulgadas indicam que além desse livro, Mair adquiriu outros títulos sugestivos: entre eles Química da Pólvora & Explosivos (um “clássico” dos anos 40), Incendiários (sobre engenhos e materiais incendiários) e o Ich Kämpfe (Eu Luto, distribuído, na década de 40 na Alemanha, aos membros do partido nazi e que continha o “juramento ao Führer”).
Mair teve também ligações a organizações de supermacistas brancos na Africa do Sul. Foi assinante, durante anos, da S.A. Patriot, uma revista do White Rhino Club (Clube Rinonceronte Branco), grémio racista e pro-apartheid. E apoiou igualmente o grupo extremista Springbok Club. Aliás é na publicação eletrónica deste, a Springbok Cyber Newsletter que se encontra uma referência a ele, sob a forma de apelo. Em janeiro de 2006 a newsletter quis saber do paradeiro dele e incluiu na edição desse mês um pedido aos restantes assinantes. Mair, havia mudado de casa, mas não comunicara a alteração da moradaaos sul-africanos. “Thomas Mair, de Batley no Yorkshire, foi um dos primeiros assinantes e apoiantes da S.A. Patriot. A correspondência recente que lhe foi enviada tem-nos sido devolvida. (…) Se alguém souber a sua nova morada ficaríamos gratos em conhecer os pormenores”.