Mais de dois mil trabalhadores do Camboja e de Myanmar já foram libertados dos trabalhos forçados em barcos-fábrica, sem condições humanas e de segurança, a que foram sujeitos nos últimos meses. O propósito destes homens era juntar dinheiro para pagar aos supostos agentes que lhes terão prometido trabalho em troca de elevadas maquias. Esta ação resultou de uma denúncia por parte da Organização Não Governamental (ONG) Vérité de que existem trabalhos forçados e tráfico de seres humanos na indústria de marisco na Tailândia. Notícia confirmada pela própria Nestlé que lhes compra ingredientes para a sua produção de comida para gatos da marca americana Fancy Feast (Friskies, em Portugal). A Tailândia, o terceiro maior exportador de marisco do mundo, recebe cerca de sete mil milhões de dólares por ano pelas exportações resultantes da pesca de marisco.
O grupo suíço, líder mundial do setor alimentar, anunciou publicamente, em novembro passado, que tinha encontrado trabalhos forçados nas suas cadeias de abastecimento na Tailândia e que os seus clientes estavam a comprar produtos contaminados com sangue e suor dos pobres e abusados trabalhadores migrantes. À Thai Union Frozen Products PCL a Nestlé importa, aproximadamente, 13 mil toneladas de comida para gatos. “Como já dissemos de forma consistente, os trabalhos forçados e os abusos de direitos humanos não têm lugar na nossa cadeia de fornecimento”, referiu Magdi Batato, vice-presidente executiva de operações da marca. “A Nestlé acredita que trabalhando com fornecedores poderemos fazer a diferença positiva para o fornecimento de ingredientes.”
Dan Viederman, chefe executivo da Vérité, reconhece que em nenhum dos casos que denunciou nos últimos seis meses, as empresas sofreram muito por terem sido associadas a estas condições de trabalho, até pelo contrário, receberam algum crédito por ter assumido o escândalo. Opinião corroborada por Nick Grono, chefe executivo da ONG Freedom Fund, que investiga o tráfico humano naquele país do Sudeste Asiático. “A decisão da Nestlé em conduzir esta investigação deve ser aplaudida. Se temos uma das maiores marcas do mundo, que vem de forma proativa, publicamente, admitir que encontraram escravidão nas suas operações de negócios, então é uma enorme mudança de jogo que poderá levar a uma mudança real e sustentada na forma como as cadeias de abastecimento são geridas.”
Ao mesmo tempo, a Nestlé já luta com unhas e dentes nos tribunais dos Estados Unidos para evitar acusações de escravidão infantil no cultivo de cacau na Costa do Marfim. Na semana passada, juntamente com outras duas empresas (Cargill e Archer Daniels Midland) viu negada por parte do Supremo Tribunal a hipótese de a ação ser arquivada. Preso por ter cão e preso por não ter.