Se a América do Norte passa por um momento de crise com a presidência de Donald Trump, parece que o muro que o político sonha construir na fronteira com o México não chegou ao futebol. EUA, México e Canadá divulgaram oficialmente na segunda-feira a proposta de sediarem em conjunto o Mundial de futebol de 2026.
O anúncio oficial aconteceu em Nova Iorque. Caso a proposta seja aceite, será a primeira vez que um Mundial será disputado simultaneamente em três países diferentes. Em 2002, Coreia do Sul e Japão dividiram o evento.
Apesar do forte antagonismo de Trump em relação ao México – ele garante que construirá um muro na fronteira dos dois países para conter a imigração ilegal, e o México pagará – os líderes das federações de futebol dizem que possuem a aprovação do presidente americano para a proposta conjunta.
“Trump apoia o projeto e incentivou a proposta conjunta. Ele está especialmente feliz com a presença do México”, disse Sunil Gulati, presidente da Federação Americana de futebol.
Dividir o Mundial em três países ganha força com a decisão da FIFA em expandir a competição de 32 para 48 seleções. A medida entrará em vigor exatamente em 2026. Pela proposta norte-americana, os EUA receberão 60 dos 80 jogos da competição, México e Canadá sediarão outros dez cada. Todos os jogos à partir dos quartos-de-final seriam jogados nos EUA.
O México já foi o palco de dois Mundiais, 1970 e 1986, enquanto os EUA receberam o Mundial de 1994. Já o Canadá pode tornar-se o segundo país a receber tanto o Mundial feminino quanto masculino – a França será o primeiro pois, depois de realizar a prova masculina em 1998, receberá a competição feminina em 2019.
A aposta nos EUA, habituado a grandes eventos, também é atrativa para a FIFA. Os Mundiais de 2018 e 2022, na Rússia e no Qatar, são alvos de acusações de corrupção e abusos dos direitos humanos na construção dos estádios. Parte do escândalo que feriu a imagem da entidade e derrubou o ex-presidente Joseph Blatter envolve subornos para a escolha das duas próximas sedes do Mundial.
Além disso, sediar grandes eventos de deporto já não parece ser atrativo para os países. O COI está a enfrentar dificuldades para escolher as sedes dos Jogos Olímpicos de 2024 e 2028, depois que várias nações retiraram sua candidaturas após críticas sobre os altos custos para receber um evento desportivo e as dúvidas sobre o retorno deste investimento para a população. A entidade estuda anunciar em setembro Los Angeles ou Paris, as duas únicas cidades que mantiveram suas propostas, como sedes das duas Olimpíadas.
Uma candidatura conjunta, como a feita para o Mundial de 2026, ajuda a reduzir o preço desses eventos. Resta saber se ele será capaz de derrubar os muros que separam as nações que propõe o projecto.