“[Os portugueses] fizeram sacrifícios consideráveis até agora, evidentemente, mas conseguimos grandes progressos”, disse Selassie numa palestra na Ordem dos Economistas. “Reconhecemos que há um grande aumento do desemprego, que duplicou. Há uma grande pressão sobre as famílias. Mas o esforço não foi em vão.”
O economista etíope mencionou progressos na redução dos “desequilíbrios macroeconómicos que caracterizavam” a economia portuguesa: redução das taxas de juro pagas pela dívida portuguesa, equilíbrio orçamental, redução do défice externo.
Quanto a resultados em termos de crescimento, esses, deverão ser visíveis a partir da segunda metade de 2013, como resultado das “reformas estruturais” em curso. “A expectativa do programa é ter crescimento na segunda metade do próximo ano”, embora esse crescimento dependa da evolução dos mercados internacionais.
Reformas estruturais são para para “ir mais além”
Abebe Selassie afirmou também que espera que as reformas estruturais continuem a ser implementadas para além do final do programa da ‘troika’ e das que lá estão previstas. “O terceiro falhanço de política foi não implementar reformas estruturais. Espero que não sejam limitadas aos conteúdos do programa mas que continuem nos próximos anos”, afirmou o responsável na sua apresentação na Ordem dos Economistas, em Lisboa, sobre causas e soluções para a crise económica e financeira de Portugal.
Abebe Selassie diz que a análise dos parceiros da ‘troika’ – Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu – sugerem já que estas reformas poderão recompensar em termos de crescimento económico.
Estado social sim, mas se houver financiamento
Sobre o Estado Social, o FMI considera que Portugal pode manter um sistema de proteção social de grandes dimensões desde que consiga financiá-lo. “Se quiserem ter um grande estado providência em Portugal, tudo bem, mas têm de saber como pagar por ele”, disse Selassie, na palestra. “É possível ter um Estado baseado no modelo escandinavo, mas para isso é necessário um setor exportador muito dinâmico. Esse é um debate necessário.”
Na palestra intitulada “A crise económica portuguesa: diagnósticos e soluções”, o economista etíope acusou ainda a política orçamental de ter sido “completamente indisciplinada” nos últimos anos e de ter havido um falhanço no controlo e monitorização do setor privado.
Subida da dívida pública deve-se em muito à reclassificação de PPP
Para o FMI, grande parte do crescimento da dívida pública nos últimos anos deve-se à inclusão nas contas de PPP e empresas públicas que estavam fora das contas, refutando os argumentos que muitos lhe têm colocado sobre o elevado crescimento da dívida pública ser resultado da crise.
“Uma das coisas que as pessoas nos dizem é que o crescimento da dívida pública é um resultado da crise. Acho que é uma visão errada, porque a política orçamental foi expansionista, mas também porque muita da despesa que fizeram com Parcerias Público-Privadas e empresas públicas, entrou nas contas públicas. Grande parte do aumento da dívida pública deve-se à reclassificação destas entidades em contas nacionais”, afirmou.
Cortes nas PPP e fundações não chegam
As despesas com parcerias público-privadas (PPP) e fundações são reduzidas no contexto do défice orçamental, e não é aí que está a chave para a crise, adiantou o chefe de missão para Portugal d(FMI).
“Vão olhar para as contas do orçamento, vejam o dinheiro que é gasto em fundações e em PPP”, disse Abebe Aemro Selassie.
“As categorias significativas da despesa são salários, pensões, saúde. É preciso olhar para a realidade”, continuou Selassie. “Essa ideia de que há um nicho da despesa que podia ser eliminada e com isso resolver o problema [do défice] não é verdade.”
Aviso aos bancos
O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional em Portugal, alertou também os bancos portugueses para a necessidade de mudar o seu modelo de negócio e reduzir os seus custos operacionais. “Os bancos precisam de mudar o seu modelo de negócios se quiserem evitar mais um ciclo de elevada alavancagem”, afirmou Abebe Selassie, sublinhando que o FMI considera que os custos das operações dos bancos são elevados e que é “muito importante a redução de custos” para que seja possível melhorar as condições de financiamento dos bancos e de Portugal em si.