A gestão de pessoas é atualmente um dos maiores desafios das empresas, sobretudo daquelas que operam em vários continentes, com diferentes fusos horários e culturas diversas. Para fazer face às novas exigências, as empresas passaram a adotar políticas de recursos humanos focadas no indivíduo.
“Já não conseguimos manter as pessoas dez ou vinte anos na empresa. O foco, hoje é pensar em tirar o melhor dessas pessoas enquanto elas estiveram nas nossas equipas” , disse Sandra Rebelo, diretora de desenvolvimento de pessoas da Galp, no decorrer da conferência sobre o Futuro do Trabalho, realizada no âmbito da qual decorreu o evento Melhores Empresas para Trabalhar, iniciativa da EXAME em parceria com a everis e a AESE-Business School.
“O paradigma mudou. Estávamos habituadas a ter uma enorme capacidade de atração e retenção de pessoas. Apenas tínhamos de fazer um acompanhamento das necessidades dos funcionários e criar perspetivas de carreira. Agora é diferente. Gerir pessoas é um desafio constante para a liderança”, esclareceu Patrícia Espírito Santo, Head of Talent & Engagement do Grupo Jerónimo Martins.
E para dificultar ainda mais a vida a estes gestores, hoje não existe um padrão comum a todos os funcionários. “Temos pessoas que entram na empresa e querem estar apenas dois anos para ganhar experiência e novas competências e temos outras que querem fazer carreira e chegar ao topo. Por essa razão, temos de nos focar cada vez mais no indivíduo. Criámos programas de acompanhamento para conseguir entusiasmá-los e dar-lhes algo que supere as suas expectativas”, explicou Sandra Rebelo.
“Temos de pensar e implementar a medidas de forma global o que se torna um desafio constante porque estamos a lidar com culturas diferentes”, justificou por seu lado Leah Buccellato, director of People Ops da Unbabel, também presente no painel.
A diretora da empresa portuguesa, com sede em São Francisco, na Califórnia, diz que o ambiente do escritório é fundamental para aproximar as pessoas dos vários países. “Temos sempre os vídeos ligados entre escritórios para podermos comunicar uns com os outros a qualquer momento. Dá uma sensação de estarmos todos juntos”.
Mas, para estas multinacionais, a gestão dos horários é outro dos grandes problemas. A Jerónimo Martins divide as suas principais operações por Portugal, Polónia e Colômbia, o que “nos obriga a trabalhar com sete horas de diferença”, realça a gestora. Para conseguir agendar reuniões ou realizar projetos que envolvam quadros dos três países, a gestora de recursos humanos salientou que a empresa está a “introduzir medidas que promovam a flexibilidade em cada uma das localizações”.
Sandra Rebelo reforçou esta ideia, salientando que a “flexibilidade é fundamental quando se trabalha em vários países e com equipas multi-geográficas que têm de adaptar horários para fazer reuniões fora das horas de trabalho”.
Já Leah Buccellato lembra que essa flexibilidade tem de respeitar algumas regras e deve levar em conta a vida pessoal de cada um: “Todos temos famílias e vidas próprias. Por isso é importante que haja um equilíbrio que, por vezes, é difícil manter quanto trabalhamos com diferenças horárias tão grandes”.
Por fim, Patrícia Espírito Santo, resumiu em poucas palavras o que as multinacionais mais procuram nos seus quadros: “Podem estar muito ou pouco tempo na empresa, mas o fundamental é que contribuam para o seu desenvolvimento e que deixem um legado. A gestão da saída das pessoas deixou de ser um adeus e passou a ser um até breve”. Nunca se sabe se os seus caminhos se irão cruzar no futuro.