A rapidez das transformações tecnológicas, e o seu impacto na regulação e na supervisão dos mercados financeiros, exigem hoje novos modelos de abordagem e de atuação por parte das autoridades responsáveis, defendeu a presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Gabriela Figueiredo Dias, no primeiro painel da tarde da Portugal em Exame, a conferência que hoje decorre em Lisboa para assinalar os 30 anos da revista Exame.
A par da evolução da tecnologia, aquela responsável enumerou a “abordagem sustentável ao investimento” e o “esforço de recuperação da confiança” dos investidores como os novos desafios que se impõem às autoridades de regulação e supervisão, num momento em que a Europa avança em direção à união do mercado de capitais.
Para Gabriela Dias, se por um lado a automatização das transações financeiras permite ganhos de eficiência e transparência nas organizações, exige também uma maior monitorização dos riscos e uma melhoria da supervisão. Neste capítulo, exemplificou com os desafios de adaptação levantados por novas realidades como a tecnologia blockchain, a inteligência artificial, o aconselhamento automatizado, a emergência das criptomoedas e a negociação algorítmica.
Ao mesmo tempo, o fenómeno das alterações climáticas está já a impor aos agentes de mercado uma agenda da sustentabilidade que afeta e afetará o sistema financeiro e a economia em geral, colocando também novos desafios à regulação e supervisão, mas também à boa governação das empresas.
Por último, a recuperação da confiança dos investidores, ainda abalada pela crise financeira internacional, exige não só uma melhoria continuada das práticas de governo das sociedades, de modo a evitar ceder “à tentação dos objetivos de curto prazo”, mas também a garantia de que as “famílias, empresas e investidores” possam beneficiar de “um mercado de capitais íntegro e capaz de se assumir como fonte de financiamento,investimento e poupança.
Perante estes três desafios, a presidente da CMVM considerou que a supervisão e a regulação devem ser “fatores de modernização e credibilização” dos mercados. Mas, como referiu, há riscos no horizonte. A hipótese de um Brexit desordenado, a fragmentação dos mercados e os riscos de arbitragem regulatória são fenómenos que exigem “uma maior integração e convergência da supervisão”, no âmbito da futura união europeia do mercado de capitais, mas também “a remoção de barreiras ao investimento transfronteiriço” e “uma abordagem
sustentável do investimento.”