Parece um paradoxo – quando rebentou a crise, muitas empresas precisaram de arranjar uma forma rápida de contar notas. Afinal, os bancos sentiam mais necessidade que nunca de ir buscar dinheiro para continuarem a dar crédito. Mas muitos negócios, apesar de contabilizarem o que fazem ao fim do dia, demoram muito tempo a depositar o dinheiro. “Fica na caixa registadora, nos bolsos dos casacos dos donos das lojas, até no cofre, mas não no banco”, diz Pedro Mourato Gordo, 47 anos.
E foi à mesa de um café, em conversa com amigos, que se saiu com a ideia. “Então e se inventássemos uma máquina que contasse o dinheiro em segundos e tivesse uma plataforma digital que informasse logo o dono de quanto lá tem, e ainda encaminhasse essa informação para o banco, entrando a quantia logo nos cálculos contabilísticos?” Entretanto, o dinheiro físico fica na máquina, que quando está cheia faz acionar o transporte de valores.
Rapidamente ficou um protótipo pronto. Faltava outro passo, porventura o mais importante. “Em 2012, decidi ir para os EUA e ver se aquilo tinha mercado, se era um negócio ou não”, recorda. O engenheiro mecânico feito empreendedor instalou-se em Silicon Valley durante sete meses. Aí aprendeu a apresentar a empresa em três minutos e a testar a ideia em salas cheias de investidores. Só no primeiro trimestre, fez 65 reuniões. “Ligava às pessoas a dizer: sou fulano de tal e estou cá a testar um negócio. Mandava um e-mail e no dia seguinte já tinha resposta. Os americanos são muito pragmáticos. Ou dizem sim ou não. Não andam a empatar.”
Correu bem. Em geral, todos acharam que estavam a resolver um problema comum. Um ovo de Colombo na forma de start-up de gestão de dinheiro. Feito o desenvolvimento técnico da ferramenta e a avaliação do mercado, Pedro regressou a Portugal e instalou-se em Odivelas, para arrancar com o negócio.
Além de contactos, trouxe na mala outras mais-valias. “Não ter medo do não, desvalorizar o erro… Na verdade, errar é bom, na lógica de que dá experiência e conhecimento. O que é parvoíce é cometer o mesmo erro duas vezes. No fim, até posso dizer: não correu bem, mas já sei o que não se faz.” Outro ensinamento é não andar dois ou três anos a empurrar uma empresa que só perde dinheiro. “Em seis meses, é preciso ver se dá ou não, para não torrar mais do que é suposto”, resume Pedro, a assumir que bebeu muita inspiração nessa visão americana do mundo.
Em três tempos, a carteira de clientes da Zarph – assim batizou a empresa – foi revista e aumentada entre Portugal e o estrangeiro. Em 2015, cresceu 200%, triplicou o volume de negócios e faturou cerca de meio milhão de euros; em menos de quatro anos, vendeu 50 equipamentos, feitos exclusivamente com tecnologia nacional, para todo o País (entre os seus clientes encontramos a José de Mello Saúde, Brisa e Emel); e ainda se tornou parceira de um banco alemão que quis investir na Bulgária. Seguiram-se a Grécia, o Kosovo e a Macedónia. Mais recentemente, alargou o leque à Colômbia e ao Equador. Mas tudo isto sem escritório nos outros países. Optou-se por parcerias locais, com quem fala a língua e conhece a cultura – os equipamentos, de qualquer forma, só precisam de energia elétrica e internet.
A esta altura, no entanto, Pedro Gordo e toda a Zarph já sabem que a receita que os levou até aqui não será a mesma que os levará até ao próximo degrau. “Nunca tirámos tanto dinheiro da rua como estamos a fazer agora. E a vida, mais que tudo, é feita de resultados.”
Hoje, garante, a sua menina dos olhos já vale uns milhões de euros. E, se lha quiserem comprar, ele… vende, claro. Afinal, negócios são negócios. “E gosto de pensar em soluções, não de andar a discutir problemas.”