Quanto custam uns ténis de marca? No livro Globalisation and its Enemies, o economista Daniel Cohen pega nuns ténis da Nike e analisa o seu preço. Vendidos a €70, o custo da mão-de-obra representa apenas €2,75. Com os materiais, o custo final da produção fica nos €16,5.
Mas depois há que somar os custos da incrível máquina de promoção e marketing da Nike, mais o peso da estrutura da empresa, da remuneração dos acionistas, dos investimentos, da armazenagem… os ténis são vendidos aos distribuidores a €35,5. Até chegar ao consumidor final, o valor duplica.
Sublinhando: nuns ténis de 70 euros, a mão-de-obra custa apenas 2,75 euros. É assim a globalização, caracterizada, desde os anos 90, pela deslocalização de empresas, que transferem parte da sua produção para o oriente, onde a mão-de-obra é bem mais barata e não está sujeita a condicionalismos como as regras de higiene ou de segurança no trabalho, ou a limites de carga horária.
Quase todas as grande marcas de roupa, de âmbito multinacional, o fazem. E todas garantem que impõem regras apertadas aos seus fornecedores locais e que levam a cabo inspeções, o que não impede que as piores tragédias aconteçam. Já para não falar do drama do trabalho infantil…
O prédio que desabou em Savar, Bangladesh, em 2013, numa tragédia que matou mais de 1100 pessoas, albergava fábricas que forneciam a Primark e outras marcas como a H&M ou o grupo Benetton.
“Como a maioria dos retalhistas, não somos proprietários das fábricas que confecionam os nossos produtos. Em vez disso, trabalhamos em conjunto com cerca de 700 fornecedores – da China, da Índia, do Bangladesh, da Turquia e da Europa Oriental. A maioria das fábricas que confecionam os nossos produtos também abastecem alguns outros retalhistas com lojas nas melhores localizações e até mesmo algumas marcas de luxo!”, explica a Primark, no seu site.
Portanto, o “segredo” para os preços baixos com base na deslocalização da produção todos já o desvendaram há muito. O que faz a Primark ser ainda mais barata, garante a empresa, é o parco investimento em publicidade e o facto de comprar os materiais em grande volume.
“Compramos grandes volumes de tecidos, o que permite aos fornecedores oferecer preços mais baixos. Além disso, compramos diretamente aos fornecedores, evitando intermediários e assim reduzindo custos”, explica John Bason, diretor financeiro do grupo Associated British Foods, que integra a marca britânica, em declarações ao jornal espanhol Expansión.
Finalmente, continua o executivo, o abastecimento das matérias-primas é feito, na medida do possível, perto do local onde se situam as fábricas, poupando nos transportes.
Em Espanha, como em Portugal, a Primark já anunciou que ultrapassou a Zara em número de clientes.