“A Europa é altamente responsável pelo estado de África. Colonizou-a, tem grandes investimentos lá e isso deveria ser mais ponderado nas políticas europeias”, disse ontem Artur Santos Silva, “chairman” do BPI, banco que está a braços com uma obrigação de reduzir os riscos da sua exposição a Angola, por exigência do Banco Central Europeu (BCE). E cujo processo acabou por criar uma guerra de acionistas dentro do banco, que tem limitado a capacidade de atuação da administração e do conselho executivo, e que pode resultar na perda do controle do Banco de Fomento Angola (BFA), “o 7º banco com melhores resultados em África, com exceção dos da África do Sul”.
“Os países que têm mais relações com África deveriam poder aproveitá-las, potenciá-las e desenvolvê-las. É uma pena que tudo isto esteja a acontecer”, lamentou o também ainda presidente da Fundação Calouste Gulbenkian.
Artur Santos Silva dava assim por encerrada uma conferência de imprensa após uma assembleia geral em que as propostas do conselho de administração foram chumbadas por alguns dos seus acionistas, com destaque para a Santoro, de Isabel dos Santos.
Ficou implícito que não há vontade do BPI em abdicar do controle do BFA, a não ser que seja mesmo necessário, para cumprir as exigências do BCE, ou obrigado pelo próprio Estado angolano. Depois do maior acionista do BPI, o espanhol CaixaBank, ter dito que o BFA é “uma joia” para a instituição portuguesa, foi agora a vez de Fernando Ulrich acrescentar que também tem sido “uma jóia para Angola”, pois emprega “1600 trabalhadores, serve mais de um milhão e 400 mil clientes” e teve “resultados [financeiros] esmagadores”.
Não haverá, por isso, interesse de ninguém em criar incidentes que desestabilizem o funcionamento e afetem a credibilidade deste banco angolano. Prova disso será o facto de a assembleia geral do BFA (que tem como único parceiro a Unitel, onde também vigora o poder de Isabel dos Santos) ter aprovado “por unanimidade” as contas de 2015.
“BCE está a par de tudo”
Quanto ao chumbo da proposta que visava terminar o limite de 62 anos de idade para ser administrador do BPI, e que favorecia a continuidade de Fernando Ulrich á frente da instituição, não tem consequências imediatas. A verdade é que Ulrich tem mais cerca de um ano de mandato e, daqui até lá, espera-se que as circunstâncias sejam outras. A entrada em vigor a 1 de Julho da lei que faz cair a blindagem dos estatutos retirará o poder de bloqueio a Isabel dos Santos.
“Se não houvesse blindagem, este problema não existia e esta proposta teria sido aprovada por 75% dos votos”, realçou Santos Silva, para quem “no quadro atual do sistema financeiro é muito importante preservar a estabilidade da equipa”.
Está também a decorrer uma OPA do CaixaBank sobre o BPI, que se prevê termine em setembro. Se não houver, entretanto, mais incidentes, o BPI poderá começar 2017 nas mãos dos espanhóis, que terão efetivamente o poder de controlar o banco e sem que Isabel dos Santos possa continuar a ser a pedra no sapato.
Nessa situação, também é uma hipótese que a anterior proposta de cisão do banco relativamente aos seus ativos africanos (entre os quais o BFA) volte a estar em cima da mesa como solução para satisfazer o BCE. “É uma possibilidade, sim”, admitiu Artur Santos Silva.
Resta saber se o BCE estará disposto a esperar tanto tempo. “Temos tido contactos estreitos com o BCE, ao mais alto nível, mesmo da presidência. Está a par de tudo e sabe bem os esforços que temos feito para chegar a uma solução”, garantiu Santos Silva, confiante.