O cibercrime e o roubo de dados deverão aumentar nos próximos anos. Esta é uma das principais conclusões do ultimo relatório mundial do crime económico elaborado pela Pricewaterhousecoopers (PwC’s) a partir de um inquérito, em 2014, a uma vasta gama de empresas e empresários em todo o mundo, com o objetivo de traçar o retrato da corrupção. E se o cibercrime veio para ficar, também os subornos podem aumentar à medida que crescem os negócios com países emergentes.
A crise mundial veio tornar tudo mais sombrio ao pressionar para uma baixa de preços, quer pelo lado da produção, quer pelo da comercialização. Procurar o mais barato poderá favorecer a corrupção a vários níveis. Por isso, a preocupação acerca do potencial de crescimento deste tipo de fraude parece estar a relativizar a atenção que tem sido posta no branqueamento de capitais, pelo menos por parte das empresas.
Desengane-se se pensa que este tipo de fraude só afeta as grandes corporações e as entidades patronais. Se é verdade que muitas empresas podem ficar desfalcadas em milhões de um momento para o outro, sobretudo se forem vítimas de cibercrime, também é verdade que pode afectar o nosso quotidiano, ao nível da saúde pública e qualidade de vida. O relatório da PwC’s chama a atenção para o perigo que pode representar para todos nós a corrupção crescente em setores como o farmacêutico ou construção civil, por exemplo.
Falsificação de medicamentos põe em risco saúde pública
A pressão para “cortar custos” ou “extrair receita” pode implicar a contratação de pessoas não qualificadas para determinadas funções. Substituição de produtos por outros de qualidade inferior, bem como a sua contrafação, pode pôr em questão a nossa segurança, se pensarmos que pode acontecer na indústria automóvel ou aeronáutica. De acordo com a Interpol, tem crescido o crime farmacêutico e a falsificação de medicamentos, tornando-se uma questão de saúde pública e capaz de pôr vidas em risco. Também ataques de hackers e roturas dos sistemas informáticos públicos podem diminuir a segurança pública.
Corrupção na Construção e Engenharia
Prevê-se que a população urbana mundial cresça 72% até 2050. Isto implica um crescimento de cidades, um aumento da construção, de zonas residenciais e de toda uma série de infraestruturas em determinados pontos do mundo. O relatório indica que tal “pode ter efeitos na paisagem do crime económico”: “Esses projetos trazem, muitas vezes, níveis elevados de interação com funcionários do governo, forte dependência de terceiros e uma indústria (Construção e Engenharia) historicamente com elevado risco de corrupção”. Daí a recomendação para que empresas e municípios se salvaguardem e previnam a possibilidade de detetarem crimes como “suborno, manipulação de propostas, e fraudes nos contratos”.
Cibercrime veio para ficar
Este é o custo do progresso e da forma como a internet mudou as nossas vidas e o modo de fazer negócios. Tudo está digitalizado, convertido em base de dados. Informações pessoais e financeiras dos clientes, funcionários, hábitos de consumo que suportam estratégias de comercialização e de negócios, nomeadamente no sistema bancário, despertam a cobiça de concorrentes. E tudo está numa nuvem, que não conhece fronteiras geográficas, ao alcance dos ataques dos hackers.
O inquérito da PwC’s indica que os entrevistados estão preocupados com os “riscos de cibercrime sobre os seus sistemas de processamento e armazenamento de dados”. Esta tem sido também uma preocupação de muitos governos, que estudam modelos de proteção e discutem a localização dos sistemas de armazenamento. Para além das informações, também é roubada a propriedade intelectual, marcas e patentes registadas. Cerca de 3% das organizações mundiais dizem ter perdido qualquer coisa como 1 milhão de dólares devido ao cibercrime.
Roubar bases de dados é um potencial negócio criminoso, não só para obter vantagens comerciais e económicas, como no âmbito da espionagem industrial e até política. O desafio é proteger estes dados e prevenir a fraude.
Fraude nos contratos e subornos
Contratos fraudulentos, que proporcionam a evasão fiscal, continuam a caracterizar o quadro da corrupção. Pressionadas continuamente para se tornarem competitivas num mundo global, as grandes empresas estão cada vez mais orientadas para a fabricação externa dos seus produtos, procurando países emergentes com baixos salários.
O risco de suborno e corrupção cresce à medida que cada vez mais organizações procuram oportunidades em mercados de alto risco, com uma cultura de negócio mais tolerante com este tipo de práticas e em que os próprios funcionários de alguns governos estão predispostos a esperar certo tipo de pagamentos.
Perfil do corrupto:
• Sexo: Masculino (77%)
• Idade: 31 a 40 anos (40%)
• Tempo de Serviço: com três a cinco anos de casa
(29%)
• Educação: grau universitário (35%)