O ex-ministro das Finanças Bagão Félix, ouvido esta tarde no âmbito das audiências do Presidente Cavaco Silva com economistas, não poupou nas críticas ao “pretenso acordo” do PS com os partidos de esquerda, não reconhecendo nele uma “solução de longo prazo”. E recordou que o Presidente “não é obrigado a aceitar uma qualquer solução governativa que seja oferecida pelo Parlamento”.
Bagão Félix esclareceu que, nos acordos, os quatro partidos não fazem qualquer “alusão a reformas sistémicas, ao sistema financeiro, à dívida pública, às questões europeias, à reforma da Administração Pública, da Segurança Social, do Serviço Nacional de Saúde e da Educação”. O também conselheiro de Estado contabilizou “16 medidas que implicam aumento de despesa, seis que significam perda de receita fiscal e só três é que são neutras”, considerando que estamos perante “uma reversão” de “tudo o que foi anteriormente” feito.
Sublinhando que não há soluções ideias, e que ambas – manter o atual governo em gestão ou indigitar António Costa – têm vantagens e desvantagens, o economista considerou que o pior que pode suceder é andar “constantemente a mudar o IRC, o IRS e o IVA”. “Não há investimento estratégico que resista a este caráter errático do sistema fiscal”.
Fernando Teixeira dos Santos, o primeiro economista a ser ouvido esta tarde em Belém, considerou importante “que o quadro político seja definido o mais rapidamente possível”, para que o País consiga “cumprir com os seus compromissos europeus”.
Sugerindo que o próximo Governo deve apresentar um Orçamento que “sinalize que o país vai continuar empenhado em manter as finanças públicas perfeitamente sãs e controladas”, recordou que só assim será possível “ir aliviando o peso da dívida”.
Contudo, o ex-ministro das Finanças de José Sócrates, responsável pelo pedido de resgate externo em 2011, não quis pronunciar-se sobre soluções para o atual impasse político. “O desejável é que seja uma solução governativa que permita a aprovação o mais rápido possível no Parlamento de um quadro orçamental”, insistiu.
Já Augusto Mateus apelou a “um entendimento entre as instituições” – designadamente entre Belém e o Parlamento – para encontrar uma solução de governo. “O próximo governo será aquele que democraticamente, legitimamente, ressalta daquilo que está a acontecer”, sublinhou.
No entanto, o antigo ministro da Economia de Guterres considerou que, entre o PS e os partidos de esquerda, o que existe “não é um acordo de substância para governar, mas um acordo para dar substância ao PS para governar”.
Defendeu, contudo, um “entendimento para melhorar o País”, já que “a margem de manobra”, em matéria de finanças públicas, continua a ser “limitada”.
No âmbito das audições marcadas com sete economistas com vista à resolução do atual impasse político, o Presidente recebeu, de manhã, o conselheiro de Estado Vítor Bento, o ex-ministro da Economia Daniel Bessa, o ex-ministro das Finanças João Salgueiro e o também ex-ministro das Finanças Luís Campos e Cunha.