Colin Kaepernick é o grande debate neste momento do desporto dos EUA. O jogador de futebol americano luta para conseguir uma equipa para a próxima época, com início em setembro, mas os donos dos clubes parecem desconfiar do joelho do atleta. Não que ele tenha algum problema médico – mas têm medo de que ele volte a pousá-lo no chão em protesto, como fez na última época.
Desde o início da época de 2016, Kaepernick criou o hábito de se ajoelhar durante o hino americano, antes do jogos, para recordar os inúmeros casos de violência policial contra minorias raciais no país.
“Não ficarei de pé para mostrar orgulho por uma bandeira de um país que oprime os homens negros e pessoas de cor. Para mim, isso é maior do que o futebol americano e seria egoísta olhar para o outro lado”, disse o atleta, após o primeiro protesto.
No fim da época, o quarterback (a posição mais importante da modalidade) decidiu sair dos San Francisco 49ers, em busca de uma proposta melhor. O problema é que as outras equipas parecem temer que o jogador também traga a onda de ódio dos adeptos mais conservadores da NFL.
Numa pesquisa feita em 2016 por uma agência de marketing, Kaerpernick foi eleito o jogador mais odiado do futebol americano pelos adeptos, com 29% dos votos. Na semana passada, o presidente dos EUA chegou a dizer que o jogador está a ser boicotado porque as equipas “não querem receber um tweet desagradável de Donald Trump”.
Um dos argumentos utilizados para as equipas fugirem do quarterback é que o ativismo político seria uma “distração” no balneário. “As equipas não o veem como um quarterback titular. E a NFL não aceita distrações dos seus quarterbacks suplentes”, tweetou Joe Tomas, jogador dos Cleveland Browns.
E quem bate em mulheres?
Esse tipo de distração parece ser muito menor quando os problemas são criminais e não políticos. É o caso de Adam Pacman Jones. O jogador dos Cinccinatti Bengals foi preso em janeiro depois de atos de vandalismo num hotel, agressão a um polícia e por cuspir numa enfermeira. O veredito do julgamento ainda não foi decidido. Para já, as acusações de crime foram reduzidas para contravenção. Mas esta não é a primeira vez que o atleta tem problemas judiciais: Jones esteve envolvido em diversos casos de agressão, incluindo contra mulheres, durante os seus 11 anos de carreira. Em 2007, esteve presente numa briga que terminou em tiroteio num clube de strip. nada disto foi suficiente para que os Bengals rescindissem o contrato do jogador.
Pelo menos outros três atletas continuam sem percalços laborais, apesar de acusações de violência doméstica. Ethan Westbrooks, dos Los Angeles Rams, Josh McNary, dos Jacksonville Jaguars, e Junior Galette, dos Washington Redskins, tiveram acusações deste tipo, mas continuam a jogar. A NFL mudou as suas regras em relação a violência doméstica em 2014, quando um vídeo do jogador Ray Rice a dar um soco na noiva revoltou os EUA. Agora, jogadores sentenciados por este tipo de crime estão indefinidamente suspensos da liga. No caso do trio, duas das vítimas decidiram não dar sequência ao caso. Ethan Westbrooks ainda está a ser julgado.
Kaepernick, por outro lado, não tem nenhuma acusação contra si. Assim que se começou a ajoelhar, prometeu também doar um milhão de dólares (€930 mil) do seu salário para instituições que ajudam comunidades necessitadas. Após Trump afirmar que ele era responsável pelo desemprego do quarterback, o jogador doou 50 mil dólares (€46 mil) para a Wheel on Meels, entidade que ajuda a alimentar idosos necessitados e se tornou símbolo para aqueles que são contra as ideias do presidente americano. Kaepernick disse que não continuará com os protestos durante o hino nesta época.
Este não é o único jogador com dificuldades a conseguir um clube. Adrian Peterson, considerado um dos maiores atletas da história do futebol americano, também enfrentou problemas nos joelhos nas últimas épocas – no seu caso físicos. E Peterson também tem uma “distração” que pode estar a afastar as equipas apesar da sua qualidade: foi punido por agredir o filho, para “o disciplinar”, em 2014. Apesar das resistência inicial dos clubes, é quase certo que consiga fechar um contrato em 2017. Resta saber se antes ou depois de Kaepernick.