Ao todo, foram 35 as semanas consecutivas em que Pablo Alborán esteve no primeiro lugar do top de vendas nacional. Desde 1997, ano em que o registo da Associação Fonográfica Portuguesa começou a efetuar-se por via digital, nunca tal tinha acontecido. Um feito conseguido pelo jovem cantor romântico espanhol, que, aos 23 anos, é o maior fenómeno musical dos últimos anos, em Portugal. O êxito surgiu depressa para o malaguenho Pablo Moreno de Alborán Ferrandiz. Após dar-se a conhecer no YouTube, em 2010, gravou, no ano seguinte, o disco de estreia com o seu nome, trabalho que, além de ter sido um sucesso de vendas em Espanha, ainda lhe valeu três nomeações para os Grammy Latinos; este ano, aliás, o cantor voltou a ser nomeado em duas categorias, nomeadamente na de Melhor Álbum Vocal de Pop Contemporâneo.
Mas a apoteose da sua curta carreira aconteceu com En Acústico, um disco no qual recuperou, em versão acústica, o repertório do primeiro álbum, e cujo primeiro single, Perdoname, contou com a participação da portuguesa Carminho. À boleia desse tema, Pablo Alborán atravessou a fronteira e depressa conquistou Portugal. No último verão, o cantor percorreu o nosso país com espetáculos esgotados em toda a parte. Agora, regressa para atuar em dois concertos nos coliseus do Porto e de Lisboa, a 10 e 12 de Novembro – uma consagração – e apresentar o novo disco, Tanto, lançado esta semana. Bom pretexto para uma conversa com a VISÃO, na qual fala da sua relação “muito especial” com o público português.
Já aprendeu a falar português?
Não, ainda não (risos)… Estou a tentar… Mas já entendo muito bem…
Qual o segredo do sucesso da sua música em Portugal?
Sinceramente, não sei… Foi uma combinação de vários fatores, como o dueto com a Carminho, que tornou a canção mais familiar ao público português. A própria cadência do tema Perdóname é algo parecida com a do fado. Desde pequeno que estou muito habituado ao fado. O primeiro concerto a que assisti foi um da Dulce Pontes, tinha então 9 ou 10 anos, e, desde então, sou um apaixonado pela música portuguesa. Mas a verdade é que nunca esperei ter tanto êxito em Portugal.
Desde os tempos áureos de Júlio Iglésias que um artista espanhol não vendia tanto…
É verdade, foram muitas semanas no primeiro lugar do top nacional e estou muito agradecido por isso. Nos meus espetáculos, percebi que o público português é exigente, muito concentrado no sentimento com que toco e interpreto a minha música. Isso que emociona-me.
Apesar da proximidade, Portugal e Espanha continuam de costas voltadas, pelo menos no que à música diz respeito. Concorda?
Infelizmente, isso é uma realidade, mas o que mais me admirou foi que os portugueses sabem tudo sobre Espanha e eu, muitas vezes, senti-me um pouco inculto por não ter suficientes conhecimentos sobre Portugal, que é um país maravilhoso. Qualquer espanhol que venha aqui, volta muito enriquecido, seja por causa das matizes musicais únicas, que adoro, seja pela gastronomia, pela História ou pela cultura. É uma pena que não haja ainda um comboio direto entre Madrid e Lisboa, porque viria muitas mais vezes (risos).
Mas tem vindo tantas vezes a Portugal que já é como se fosse da casa…
A minha casa é em Málaga, mas Portugal recebeu-me tão bem que já considero este país uma segunda casa…
Regressa agora para atuar nos coliseus de Lisboa e Porto. Como vão ser esses espetáculos?
Além de recuperar o repertório da digressão anterior, será a primeira vez que o público vai ouvir o novo disco. Estes dois concertos são importantes, não só porque os coliseus impõem muito respeito, mas também porque servirão para uma passagem de testemunho. A nova digressão só começa em maio do próximo ano, mas estes espetáculos são um pequeno presente que quero dar a Portugal, um agradecimento por tudo o que este país me deu a mim.
Foi o artista que mais vendeu em Portugal e Espanha, nestes dois últimos anos, e já foi nomeado, por duas vezes, para os prémios Grammy Latinos. Alguma vez sonhou ter todo este sucesso aos 23 anos?
Não, nunca. É uma sensação muito boa (risos). Pode soar como um lugar comum, mas este é um sonho cumprido. Quando comecei a tocar piano, com 7 anos, já sonhava, poder viver da música, no futuro. Jamais pensei que tudo acontecesse com esta rapidez. Mas é bom não esquecer que, no mundo da indústria musical, um dia estás no topo e, no outro, estás cá em baixo. O que espero que nunca mude é a minha emoção em cima do palco e a conexão com o público. Quanto aos prémios e aos discos vendidos, é tudo muito bonito. Mas o mais importante é sempre a música: quando estou a compor, com a minha guitarra, ou num palco, a partilhar as minhas canções com o público.
Deu-se a conhecer no YouTube. Porquê?
Eu cresci com a Internet e quando comecei a compor, com a minha guitarra, sites como o YouTube ou o MySpace permitiram-me mostrar a minha música às pessoas de uma forma muito mais rápida. Se não fosse assim, de certeza que o processo seria muito mais lento. A Internet é, hoje, uma ferramenta normal e indispensável para a minha geração, não só na música mas também na literatura, no cinema e até no jornalismo…
Começou por tocar música clássica?
Sim, piano e guitarra clássica. Ainda hoje oiço muita música clássica, assim como flamenco, fado ou tango. Mas também oiço coisas mais atuais, como heavy metal, rock independente ou música experimental – apesar de as pessoas, às vezes, estranharem esses meus gostos. E gosto muito de misturar isto tudo, como acontece neste novo disco, uma fusão entre o clássico e o moderno. O tema Beso, por exemplo, começa como um fado, evolui como um tango e termina como um bolero. Há outras canções com um tom mais eletrónico e até de rock, que é algo que eu nunca tinha feito antes.
O que anda a ouvir?
O disco da Lana del Rey, que comprei recentemente. Alguma música dos anos 80, Keith Urban, Kenny Loggins, e ainda Robert Palmer que me inspirou bastante para este disco. E também, como sempre, muita música clássica.
O amor volta a ser o tema principal deste novo disco?
Sim, canto os extremos do amor: quando nos apaixonamos ou quando alguém nos magoa. É um disco que fala de amor, mas de diferentes perspetivas. Há uma música chamada En Brazos de Ella, sobre uma mulher que se apaixona por um rapaz muito mais jovem. É um amor impossível, quase platónico, que todos conhecemos dos livros e dos filmes e que não é a típica declaração de amor. Há também uma outra canção que fala de alguém que quer despojar-se de tudo e apaixonar-se. É um tema mais sobre liberdade, mas o amor também é liberdade.
E como é que alguém com 23 anos sabe tanto sobre o amor?
(Gargalhada) Bem, como costumo dizer, isso não tem nada a ver com a idade, mas sim com o modo como se está na vida. Sou uma pessoa muito passional, gosto de viver tudo a cem por cento. Na hora de compor, acabo por recriar muito mais do que aquilo que já vivi. E, depois, há ainda livros, filmes, e a vida das pessoas para me inspirar.