É verdade que vai introduzir o mandarim no ensino oficial do concelho?
Já em janeiro será introduzido em todas as escolas, no 3.° e 4.° anos do ensino básico. Além disso, vamos pedir autorização ao Ministério da Educação para criar pelo menos uma turma bilingue numa escola, desde o 1.° ao 12.° ano. Será um sistema semelhante ao do Colégio Alemão ou do Liceu Charles Lepierre, em Lisboa, com algumas cadeiras numa língua e outras noutra. Também no Instituto de Línguas de São João vamos pagar mais de metade da inscrição a quem for aprender mandarim.
São João da Madeira tem uma comunidade chinesa significativa?
Nem por isso. Não é maior do que a de outros concelhos.
Então como lhe veio esta ideia?
Os portugueses têm de aprender aquela que será a língua de futuro para quem quiser fazer negócio. Não vai ser possível estar no mercado mundial sem entrar na China e, por isso, saber a língua corresponderá a uma mais-valia. Quem tiver oportunidade de ensinar chinês a um filho vai ser melhor do que era dantes dar um dote a uma filha.
Devemos interpretar a iniciativa como mais um convite a que os jovens imigrem?
Nada disso. São João da Madeira já é um concelho muito virado para a exportação e tem potencialidades para crescer muito mais nesse sentido. Alguns dos nossos industriais, designadamente de calçado, começaram a abrir lá lojas e sentem a falta do mandarim.
Que resultados pensa conseguir?
Considero uma missão histórica repensar Portugal para o futuro, porque ainda somos um pequeno país exportador. Se conseguirmos ficar com uma pequeníssima parte das importações chinesas, isso já representará várias vezes as nossas exportações atuais. Estamos a falar de um mercado enorme e com um poder de compra em crescimento rápido.
Mas o que pode São João da Madeira exportar para a China?
Olhamos muito para lá como o país de onde vêm artigos baratos. E, para vender esses artigos aqui, eles nem precisam de falar português, basta porem o preço na montra. Para vendermos lá, temos de seguir a lógica contrária, com artigos de qualidade, que incorporem moda, design. Nesse caso, o preço não vende por si próprio. Há que explicar a mais-valia, e as elites e os homens de negócios chineses não falam inglês. Não queremos vender na China sapatos baratos, o que é curioso, porque nos últimos anos o calçado barato deles é que deu cabo do negócio aqui. Também já temos negócios na área da metalomecânica, e podemos vir a ter nos vinhos, no mobiliário, nas rolhas…
Voltando aos seus cursos. Como vai contratar os professores?
Serão cerca de metade chineses e metade portugueses, contratados através da Universidade de Aveiro, que coordenará todo este projeto. Contaremos também com o apoio da Escola Portuguesa de Macau.
No ensino básico as aulas serão de uma hora por semana. Claro que as crianças não sairão de lá a falar mandarim, mas quebra-se o gelo, a ideia de que é uma língua impenetrável. O objetivo será ficarem a saber 60 carateres por ano. E se, daqui a uns anos, tivermos 200 ou 300 pessoas que falem mandarim, já mudará por completo o panorama empresarial da região.
As famílias não acham bizarro? Ainda há pouco o inglês se tornou obrigatório no ensino básico.
A ideia foi muito bem acolhida quer pelas famílias, quer pelas direções das escolas. E isto não vai substituir de modo algum o inglês. O mandarim será a somar.