Ouvem-se, primeiro, os passos a descer as escadas de pedra, o ritmo pesado de umas botas rústicas que calçariam bem um motard convicto, escolha discutível para quem se prepara para enfrentar os picos e vales da capital lisboeta. Quem aparece não é Charles Ryder, o aprumado estudante de Oxford, fascinado pelos tormentos de uma família aristocrata, na série televisiva Reviver o Passado em Brideshead (1981). Nem tão-pouco Elliot ou Beverly Mantle, os Irmãos Inseparáveis (1988), de David Cronenberg.
E Carl von Bullow, que tentou matar a mulher, em Reveses da Fortuna (1990), ficou arrumado no armário, ao lado das gravatas caras e da estatueta do Oscar. O Jeremy Irons que comparece ao encontro marcado vestiu o papel de aventureiro, calças bombachas e botas de fivela, mochila inseparável, chapéu puxado para os olhos. Uma semana antes, dicção perfeita ao telefone, avisara cordialmente: “Bem, eu não sou muito elegante nem sofisticado como pessoa, portanto, tenho que representar esse papel, ainda bem que resulta.”
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