“Ui, anda embora” dizia uma mãe à sua filha adolescente quando esta se aproximava dos Playing for Change, na apresentação de ontem à tarde, no bar exterior da Casa da Música, no Porto. A filha tinha-lhe dito que era um bando de sem abrigo a cantar, mas estava enganada.
Mark Johnson, o criador deste projeto, encontra os seus músicos na rua, mas nem todos moram nela: Grandpa Elliot, um dos membros mais velhos (70 anos) dos Playing For Change, nunca foi um sem teto. Mas desde os 6 que dançava o sapateado e se fazia acompanhar da sua harmónica para tocar blues nas ruas de New Orleans. Atuava ainda num palco improvisado na rua quando Mark o encontrou. A Grandpa foram-se juntando os cerca de 300 músicos que entretanto passaram a fazer parte deste projeto.
Mark, produtor musical norte-americano, já recrutou cantores e músicos dos quatro cantos do mundo e acredita que “a música, por ser uma linguagem universal, que todos entendem, é a certa para unir as pessoas, independentemente da cor da pele, das políticas, dos estatutos e das diferenças”.
A ideia nasceu em 2004, quando Mark, produtor já premiado, se apercebeu que “encontrava melhor música a caminho do estúdio, no metro, na rua, do que no próprio estúdio”. E aquilo que começou como um projeto musical evoluiu, em 2007, para uma fundação. A Playing for Change Foundation financia atualmente oito escolas de música, em países tão diversos como Mali, Nepal, Gana, África do Sul e obviamente na América. Geridas pela população local, estas escolas servem 600 estudantes e criaram 153 postos de trabalho, possíveis graças às vendas de cds e “aos donativos feitos, através do site da fundação, por beneméritos de todo o mundo”.
Manu Chao, Bono e Keith Richards são alguns dos nomes sonantes que, com a sua voz, apoiam esta causa e participaram nos vídeos que correm mundo.
A atuar na Casa da Música hoje à noite, na sala Suggia e com lotação quase esgotada, os Playing For Change prometem um concerto que, nas palavras de Grandpa Elliot, “will change you”.