O escritor irlandês conta que estava deitado de bruços no sofá, no meio de uma sessão de fisioterapia, quando recebeu uma ligação de um homem que anunciava ser Mats Malm, o secretário da Academia Sueca, meia hora antes de os verdadeiros vencedores serem revelados numa cerimónia em Estocolmo.
“Perguntou-me se preferia receber o prémio de 2018 ou 2019 [recorde-se que foram entregues os Nobel da Literatura dos dois anos, porque no ano passado não houve atribuição]. Ainda me leu a citação que leria sobre o meu trabalho”, revelou ainda Banville, citado pelo The Guardian, assegurando ainda que o autor da partida foi muito convincente. “E eu liguei para todas as pessoas de que me lembrei para dar a boa notícia.”
Só que, 40 minutos depois, Banville recebeu um telefonema da sua filha, mal o(s) verdadeiro(s) vencedores foram anunciados ao vivo – “não, pai, afinal não foste tu!”. Para Banville, tudo se tornou então muito claro: “Percebi que tinha sido uma farsa e liguei de novo a todos a dizer: “vá, não comprem champanhe nem atirem os chapéus ao ar que não era verdade.”
Ainda assim, pouco depois do anúncio, Banville garante que uma mensagem de voz deixada no seu telefone explicava que tinha havido uma discordância de última hora entre os decisores. Só que, tal como em tantas outras vezes, esta história também tem um mas e, depois de ouvir a mensagens vezes a fio, o escritor notou que a voz era mais grave do que a do verdadeiro Mats Malm e que não revelava um inglês tão agradável ao ouvido.
Decidiu então partilhar a gravação com a Academia Sueca, para que se investigasse o incidente, já que, no seu entender, o boato não tinha como intenção atacá-lo, visava antes descredibilizar a Academia Sueca, que está ainda a recuperar do escândalo do ano passado e, longe dos holofotes, vive conhecidas divisões internas. “Suspeito antes de alguém insatisfeito e com rancor. Mas não acho que o alvo fosse eu. Penso que fui só um dano colateral.”
E depois da deceção inicial por afinal os cerca de 900 milhões de euros do prémio não serem seus (“Claro que fiquei desapontado”, reconheceu) Banville prefere agora o lado engraçado do incidente. “Aprendi algumas coisas sobre mim nos 40 minutos em que supostamente fui o vencedor do prémio”, disse, antes de remata com um misterioso – ou talvez nem tanto… – “Estamos perante alguma comédia e material com grande potencial. Ora vejam lá: ‘O Homem que Quase Ganhou o Nobel.”
Diga-se ainda que John Banville ganhou o Booker Prize de 2005, o Prémio Franz Kafka de 2011 e ainda o Príncipe das Astúrias em 2014.
Já os Nobel agora entregues reconheceram a carreira do austríaco Peter Handke (2019) e a de outra vencedora do Booker Prixe, no caso a polaca Olga Tokarczuk (2018).