Chamam-lhe a casa da ópera nacional e é um espaço único, na cidade de Lisboa e no país. Erguido em 1793, é igualmente considerado o grande teatro da capital vocacionado para a produção de música coral e sinfónica. Aquele edifício neoclássico de inspiração italiana é também a casa da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do único coro profissional do país. E promove ainda o já bastante conhecido e reconhecido Festival ao Largo, que permite à música erudita sair à rua.
Mas desde o final da semana passada que o Teatro Nacional de São Carlos está no epicentro de um enorme protesto: como as reivindicações dos técnicos que ali operam não foram até agora atendidas, foram anuladas as récitas de La Bohéme anunciadas para sexta e para domingo. Esta terça-feira, a manter-se o impasse nas negociações, também não deverá haver espetáculo. Os representantes do sindicato sublinham que o valor de bilheteira perdido pelo Opart (sigla de Organismo de Produção Artística, responsável pela gestão do teatro) nestas duas primeiras récitas é já o dobro do necessário para responder ao que é reclamado pelos trabalhadores do teatro.
Ao que contou à VISÃO Irina Oliveira, do Sindicato dos Trabalhadores do Espetáculo, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE), em causa está a aprovação de um regulamento interno, uma sala para a orquestra ensaiar (e pela qual espera há 26 anos), o pagamento de horas extraordinárias em dívida desde 2013 e ainda a harmonização salarial dos técnicos do teatro e da Companhia Nacional de Bailado.
“Esperamos, a todo o momento, a confirmação de que há aval do Ministério das Finanças para se cumprir o acordo, e assim ainda haveria La Bohéme”, sublinha aquela representante dos trabalhadores, depois de referir ainda que chegou a ser proposto que a greve fosse suspensa, mas a hipótese foi liminarmente recusada pelos técnicos de ambos os organismos. “O Opart, que tomou conta disto há mais de dez anos, não se mostrou merecedor dessa nossa boa fé”, rematou.