Kanye nunca está a leste de uma boa polémica. E, quando se aproxima o lançamento de um novo disco – este é já o sétimo, a probabilidade de o próprio a provocar e alimentar aumenta substancialmente. É o marketing, estúpido, diria um especialista no assunto, e o certo é que o rapper aproveita as redes sociais como poucos. Desta vez não fez a coisa por menos e, em vez de uma, foram duas as provocações. Primeiro a afirmação, via Twitter, plataforma onde é muito ativo, de que tinha feito “o melhor álbum de sempre”.
A frase foi corrigida dias depois mas a imodéstia continuava lá. Diz ele que não queria ofender nomes como “Q-Tip, Puff, Hov, Lauren, Pharcyde, Mary, Stevie, Michael, Hendrix, James, Pete Rock, Pac, Marvin…”.
Depois foi a troca de comentários de nível, no mínimo, duvidoso com o rapper Wiz Khalifa. Convencido que este tinha insultado a sua mulher, a não menos famosa Kim Kardashian, Kanye atirou-se a ele através de Amber Rose, mulher de Khalifa e com quem o próprio West já namorara. “Deixaste-te enredar por uma stripper…”, escreveu, sem precisar de esgotar os 140 carateres de cada tweet. A resposta não demorou e veio da própria Amber que perguntou a Kanyese ele estava zangado por ela “já não estar por perto para…”. Enfim, depois de lavada a roupa suja, a coisa acalmou e os dois músicos até fizeram as pazes publicamente.
É caso para dizer que a West nada de novo. Tanto assim que, por estas e por outras, a revista Time incluiu-o no topo da lista dos mais influentes do mundo em 2015. E não apenas entre os artistas, mas entre os “titãs”, ou seja, os maiores dos maiores. A justificação? Elon Musk, o bilionário sul-africano, fundador da PayPal e da Tesla Motors, entre outras, que assina o texto, explica-o de forma direta: “Kanye West seria a primeira pessoa a dizer que pertence a esta lista. Este tipo não acredita em falsas modéstias.”
‘JACKASS’, DISSE OBAMA
A propensão para as polémicas faz de Kanye um dos nomes com mais presença nos media e redes sociais e dava para gastar muita tinta. Talvez mais três exemplos sejam suficientes: na cerimónia do ano passado dos MTV Video Music Awards, Kanye anunciou que se vai candidatar à presidência dos EUA em 2020. Mas avisou logo, “antes que me perguntem se fumei erva antes de vir para aqui, a resposta é sim”. Provavelmente fê-lo para não repetir o episódio da edição de 2009 do mesmo evento, em que arrancou o microfone das mãos de Taylor Swift, quando esta agradecia o prémio para Melhor Vídeo Feminino, para lhe dizer que o prémio devia ser para a sua amiga Beyoncé.
As reações não foram bonitas e até Barack Obama, num momento que antecedeu uma entrevista televisiva e sem saber que estava a ser gravado, comentou o episódio dizendo que Kanye era um “jackass” (algo como “parvalhão”).
Nada lhe serviu de emenda, porém, e nos Grammys de 2015 Kanye voltou à carga, criticando Beck logo após este ter ganho o prémio de Álbum do Ano, afirmando, mais uma vez, que quem merecia o troféu era… Beyoncé. Mais tarde, para não variar, foi ouvir o álbum de Beck e reconheceu que era muito bom, acabando por pedir desculpas públicas ao músico. Como resumiu bem Stephanie Marcus, editora do The Huffington Post, Kanye was beck.
Nascido em Atlanta (Geórgia) há 38 anos, Kanye que em suaíli significa “único” é filho de Ray West, um ex-membro do movimento antirracial Panteras Negras e um dos primeiros fotógrafos negros do Atlanta Journal, e de Donda West, uma professora universi- tária de Inglês. Com o divórcio dos pais, e apenas com três anos de idade, Kanye foi viver para Chicago, para onde a mãe se mudou. Na capital do Illinois chegou a estudar na American Academy of Art, mas cedo desistiu em busca de uma carreira no mundo da música. The College Dropout acabaria mesmo por ser o nome escolhido para o seu álbum de estreia, lançado em 2004. Mas foi o sucedido menos de dois anos antes que marcaria a carreira de Kanye West de forma indelével.
A 23 de outubro de 2002, teve um violento acidente de carro quando regressava a casa e fraturou gravemente o maxilar, tendo de colocar uma placa metálica para a reconstrução. Mesmo debilitado, e enquanto recuperava da cirurgia, pediu um sintetizador para ir trabalhando algumas faixas do álbum de estreia. Lançado em fevereiro de 2004, pela Roc-A–Fella, a produtora onde Kanye trabalhava, The College Dropout foi um sucesso de público, atingindo a tripla platina, e da crítica, valendo-lhe o prémio de melhor álbum de rap do ano, naquele que seria o primeiro dos 21 Grammys que o músico conseguiu até hoje.
O segundo trabalho, porventura o mais difícil para definir o êxito (ou o fracasso) de uma carreira, foi ainda mais longe. Produzido em colaboração com o compositor cinematográfico Jon Brion, Late Registration viu a luz do dia em agosto de 2005 e foi considerado o álbum do ano por inúmeras publicações, entre as quais a reputada Rolling Stone, que o classificou como “absolutamente virtuoso”. Comercialmente, o sucesso foi a condizer, vendendo mais de 860 mil cópias na semana de lançamento e chegando ao fim do ano com mais de 2,3 milhões de cópias vendidas só nos EUA.
Não venceu o Grammy, para que esteve nomeado, mas voltou a chegar à tripla platina.
Com uma carreira tão fulgurante na música, Kanye aproveitou esse final de 2005 para se aventurar também noutra das suas paixões, a moda. A sua linha de roupas, Pastelle Clothing, foi lançada em finais de 2006. Também nos trapos, a vida não lhe correu mal e ainda hoje possui uma parceria com a Adidas, marca para a qual vai lançar agora a terceira linha da Adidas Yeezy.
RESERVAR UM ESTÁDIO
Em novembro de 2007, Kanye viveu aquele que o próprio definiu como o pior momento da sua vida, a morte da mãe devido a complicações após uma cirurgia de lipoaspiração e para redução dos seios.
O caso foi bastante mediatizado, não apenas por envolver a mãe do músico, já elevado à condição de estrela universal, mas também porque levantou forte celeuma pelo tema. Arnold Schwarzenegger, então governador da Califórnia, decretou mesmo a Lei Donda West, uma legislação que tornou obrigatório que os pacientes sejam obrigados a um aval médico para se submeterem a operações estéticas. Kanye revelaria que o desaparecimento da sua mãe “foi como perder um braço e uma perna e tentar andar mesmo assim.” Mas fê-lo e sempre à vista de todos.
Para isso muito contribuiu também, a par da carreira musical, a relação com a não menos famosa Kim Kardashian, tal como ele, eleita pela mesma edição da Time, como uma das figuras mais influentes de 2015. Para o pedido de casamento, no dia do 33.º aniversário de Kim, West reservou o estádio de baseball de São Francisco e convidou família e amigos para a cerimónia. O anel de noivado, com um diamante de 15 quilates, foi desenhado pelo próprio noivo.
Com uma fortuna avaliada em 130 milhões de dólares, para a qual também contribui a sua cadeia de fast-food, Fatburgers, Kanye não é o rapper mais rico do mundo mas é, seguramente, um dos mais influentes. Ironicamente, foi um dos muitos que participou no movimento Occupy Wall Street, em 2011, ele, que claramente faz parte do 1 por cento que detém uma riqueza superior aos restantes 99 por cento.
Isso é apenas mais um motivo para outra boa polémica e esse, como se viu, bem podia ser o seu nome do meio. Não vão os fãs, ou o resto do mundo, esquecerem-se de Kanye, ele trata de os lembrar diariamente que existe. Seja para dizer mal ou bem, o que interessa é que falem dele. E a verdade é que consegue. Este texto é apenas mais uma prova.