“Os coretos serviram em muitos momentos como espaços de concentração, congregação para o espectador e de representação e performance para quem os utiliza. Muitas vezes, são espaços utilizados por crianças para as suas brincadeiras e encenações, fazendo parte da memória coletiva de todos nós. Do ponto de vista urbano, os coretos assumem normalmente uma posição central em praças ou jardins, afirmando-se por isso como elementos marcantes desses espaços”, enquadra.
Não são de origem portuguesa, contudo contribuíram para o enriquecimento da nossa arquitetura. Paulo dá-nos duas perspetivas sobre esta comunhão: “O contributo foi mais programático que formal. Do ponto de vista formal foram construídas peças extremamente interessantes ainda que fazendo parte de um determinado contexto histórico. Já do ponto de vista abstrato, e enquanto espaços de públicos e de performance, os seus princípios são muitas vezes adotados em contextos urbanos atuais. Muitos espaços públicos em Portugal assumem hoje em dia estas características ainda que de forma menos evidente, mas essa tradição mantém-se”.
Relativamente à perda de afluência como culto de final de tarde, o arquiteto acredita numa possível adaptação contemporânea e jovial destes espaços culturais: “Hoje há muitas mais formas de representação enraizadas no tecido social para além da banda de música filarmónica. Não só outros tipos de música desde o jazz ao pop, como outros tipos de performance como o teatro ou a dança. Imagino que o coreto possa passar a ser um espaço mais versátil e polivalente, talvez mais participado, utilizado pela população em geral em vez de um lugar de retórica performativa para uma audiência. É fácil imaginar uma roda de hip-hop espontânea acontecer num coreto, por exemplo.”
Pessoalmente guarda também as suas memórias e, mais do que saber fazer, ao arquiteto ideias não faltam: “O coreto vale mais pelo seu valor intrínseco e funcional do que pela sua aparência. Neste sentido, são para nós todos eles especiais e todos eles iguais e valem mais pelo que neles acontece do que pela sua forma. Se pudesse aproveitar um coreto, não o alteraria demasiado. Aproximava a distância para o público e tentaria torná-lo mais versátil do ponto de vista espacial e até do ponto de vista tecnológico para se poder adaptar a múltiplas utilizações. Ir mais longe que isso significaria que deixaria de ser um coreto.”
Paulo Vieira Borralho é arquiteto Licenciado pela Universidade Lusíada de Lisboa. Começou a exercer no Atelier PRO (Haia, Países-Baixos) em 2003, e os seis meses seguintes no Grupo de Arquitectos Mecanoo Architecten (Delft, Países-Baixos), onde permanece como Arquiteto Coordenador de Projeto. No final de 2006, regressa a Portugal para fundar o atelier RUA, em Lisboa, onde desenvolve neste momento a sua atividade profissional.