Em dezembro de 2006, a autarquia de Edimburgo lançava um concurso dirigido a arquitetos para que repensassem um dos palcos mais emblemáticos daquela cidade escocesa, o Ross Bandstand, nos jardins por baixo do castelo. O desafio era criar um espaço adaptável a vários tipos de espetáculos no Princes Street Gardens, um dos parques mais centrais de Edimburgo. Entre as respostas que então surgiram destacou-se a de um atelier de Londres, o Make Architects, que previa a construção de uma espécie de ponte a ligar cada um dos lados do coreto, numa cobertura capaz de criar uma concha, ampliando dessa forma o espaço em volta, que ficava assim com capacidade para acolher performances de grande escala nos festivais de verão. Evitava-se, desse modo, que o coreto de 1931 fosse escondido atrás de um grande palco apenas montado para essas ocasiões e a seguir retirado.
O concurso serviu para avaliar a criatividade e desafiar os arquitetos a repensarem, na atualidade, um equipamento que quando foi concebido servia outro tipo de espetáculos. Havia 14 milhões de libras, cerca de 18,5 milhões de euros, para os trabalhos de construção e requalificação de todo o espaço envolvente. O projeto não avançou por questões de política local, mas é simbólico sobre a necessidade de urbanistas, arquitetos e autarcas repensarem o que pode ser o equivalente no século XXI ao tradicional coreto, palco público de espetáculo ao ar livre.
Para suprir esta falta – a insuficiência ou desadequação – que não é apenas de um país, uma equipa de engenheiros de som, designers e arquitetos concebeu um palco portátil que recria a forma de uma concha do mar. Esta é, aliás, a forma dada à maioria dos equipamentos modernos equivalentes, na sua filosofia, aos tradicionais coretos redondos ou octogonais. Esta concha, a que foi dado o nome de Soundforms (as formas do som, literalmente), é capaz de reproduzir ao ar livre a qualidade acústica de uma sala de concertos. O primeiro protótipo deste palco foi testado em março 2012 nas docas londrinas, num concerto com músicos da Filarmónica de Londres. Aprovado com aplausos, seria replicado em vários espetáculos durante os Jogos Olímpicos desse ano na capital britânica. Cada concha custa cerca de 250 mil libras, ou seja 330 mil euros.
Não terá a mesma qualidade, mas a forma e o objetivo – adequar o palco público de rua – são semelhantes. The Pavillion of Light, na cidade de Cork, na Irlanda, foi inaugurado em maio de 2015, no Fitzgerald Park, uma estrutura adaptável a múltiplas representações e concertos. Projetada pelo atelier Darmody, é um dos novos símbolos da cidade e foi nomeado para o mais importante prémio de arquitetura da Irlanda.
Por cá, vive-se outro estádio deste movimento de modernização deste tipo de equipamentos. Regra geral, reconstroem-se, reabilitam-se, restauram-se ou constrói-se de novo replicando a forma tradicional do coreto. Mas não há um trabalho de arquitetura sobre estes espaços. Um dos mais modernos continua a ser o coreto do Jardim do Palácio de Cristal, no Porto. Não tem a forma exata de uma concha, mas é o mais aproximado. Uma espécie de bola cortada a meio, construída em 1910, com motivos em pedra, e que desde então já sofreu várias intervenções. O autor não aparece identificado.
Outro símbolo de modernidade é o coreto projetado pelo arquiteto Raul Lino para o Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga. No início da década de vinte do século passado, Lino em vez de construir num novo local, aproveitou uma estrutura existente e substituiu a cúpula de ferro por seis colunatas de granito. O critério foi o de melhorar a qualidade e manter o palco no melhor sítio do jardim, aquele mais acessível ao público, lembrando então essa função primordial deste tipo de equipamentos.
Um dos melhores exemplos, no entanto, de recuperação de antigos coretos, adequando-os ao tempo, está, uma vez mais, no Reino Unido. Desta vez em Brighton & Hove, no Sudeste de Inglaterra. Um antigo coreto vitoriano, de 1884, foi alvo de uma profunda recuperação que pretendeu restituir ao intricado conjunto de ferro não apenas o seu esplendor antigo como a sua capacidade de atrair público àquela zona junto ao mar. A base foi transformada num café. A obra custou mais de um milhão de euros, mas a promenade de Brighton & Hove passou a ter espetáculos regulares durante todo o verão.