É final de tarde de domingo, no Largo da Fonte, e começa a ficar mais fresco, apesar dos raios de sol que ainda iluminam o coreto. Habilmente, algumas crianças trepam para cima da vetusta estrutura e ensaiam brincadeiras e passos de dança. É para aqui que convergem os caminhos do Monte.
A dois passos do largo fica a emblemática igreja onde está sepultado o beato Carlos da Áustria, que em tempos foi imperador daquele país. O templo atrai peregrinos e turistas e, em agosto, enche-se de gente com as novenas em honra de Nossa Senhora do Monte, a padroeira da Madeira.
Aqui, a 550 metros de altitude e apenas a 9 quilómetros de distância do centro do Funchal, a meia encosta do anfiteatro funchalense, respira-se uma atmosfera romântica, de cartão-postal. Contribuem para isso os jardins e as quintas, com as suas flores e árvores frondosas. Não foi por acaso que alguém chamou ao Monte “a Sintra madeirense”, epíteto muito divulgado pelo antigo e distinto jornalista João Augusto de Ornelas, e que acabou por ser frequentemente adotado nas referências à freguesia em obras nacionais e estrangeiras.
No centro de tudo está o coreto. Construído em 1890, em ferro forjado, no estilo Arte Nova, é o mais antigo da Região Autónoma, e indiscutivelmente um dos ex-líbris da localidade. Cercado de plátanos altaneiros e centenários, são seus vizinhos o Fontenário de Nossa Senhora do Monte, o antigo chalet familiar Café do Park e a Estação do Comboio que trazia visitantes do Funchal.
Há vários eventos que o põem em evidência ao longo de todo o ano. Idalina Silva, presidente da junta, que remodelou o coreto no final de 2015, enumera: o Mercadinho do Monte, no último sábado de cada mês; o desfile de Carnaval, em fevereiro; o mural de flores que se realiza em abril/maio; as palestras; a feira gastronómica; as marchas populares de junho; o Monte de Clássicos, exposição de automóveis, motos e bicicletas antigos que acontece em julho; a iluminação natalícia de dezembro; o circuito de atletismo ou a entrega de prémios da prova automobilística Rampa do Monte.
Mas é, verdadeiramente, em agosto que o coreto ganha todo o seu merecido protagonismo. É neste período que atuam na antiga estrutura as bandas e grupos convidados. A Banda Municipal do Funchal (Artistas Funchalenses), fundada em 1850, é uma das que há mais tempo atuam naquele coreto. Aos 81 anos, o trombonista Adelino Pereira conta já com 64 deles passados naquela filarmónica, e são muitas as atuações que recorda no Monte. “Aquilo enchia de gente à volta, não havia outra animação na freguesia.” O testemunho é partilhado pelo clarinetista Francisco Abreu, de 52 anos, 35 deles nos Artistas. “Quando chegava ali uma banda, era um momento de alegria, e uma forma das pessoas terem acesso à música duma forma gratuita”, salienta.